#11 - Come'n Get It - Whitesnake
A cada um a sua justa parte
de Kitsch. E a minha legítima quota é esta: "Come an’ Get It", dos
senhores Whitesnake. Gosto tanto deste disco. É carne da minha carne e é
super piroso (reparem bem na anti-estética redundante desta capa). Em
vinil ensinou-me a dar corda à aparelhagem, para que o Coverdale se
ouvisse no fim da rua. Em CD Rom perpetuou-se esplendidamente pela minha
imaturidade de adolescente de 30 anos e em mpeg tranquilizou-me
as dores reumáticas - não estava enganado em 1981, como não estou
enganado agora: Come’n Get It é uma colecção de malhas do outro mundo.
Cruzando Soul, Folk e Hard Rock, músicos gigantes como Jon Lord, Micky
Moody e Ian Paice conseguem dar ao trágico-patético trovadorismo de
David Coverdale um palco sonoro digno de qualquer majestade lírica. E se
nunca ouviram um tema deste álbum (os Whitesnake posteriores são mais
famosos, mas falsos como o raio), oiçam, por gentileza, a superior e
autêntica cantiga que coloco em baixo. E depois digam de
vossa justa razão.
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#12 - Breakfast in America - Supertramp
“Take a look at my girlfriend, she's the only one I got
Not much of a girlfriend, I've never seem to get a lot”
Ao facto de estar com dificuldades em avançar nos anos 80, acresce um regresso a 1979. Mas tem que ser.
O primeiro concerto da minha vida é o da digressão deste disco
imortal, no Dramático de Cascais. Era tão novinho que mesmo o meu
melhor amigo, que era dois anos mais velho do que eu, teve que levar a
irmã para tomar conta da gente. Lembras-te, Zé?
Como acontece com todos os casos anteriores, este disco sou eu e
vice-versa. A quantidade de horas de felicidade que os Supertramp me
ofereceram, no correr da vida, com esta obra de arte pop, não tem
contabilidade possível.
Enquanto em discos de que já falei e noutros
que mencionarei a seguir, estes são os anos iniciais da celebração
romântica que infectou a pop da década de 80, Rick Davies e Roger
Hodgson propõem um registo mais cínico e existencialista, que é um um
dedo indicador a rodar sobre uma ferida aberta. Como um pequeno-almoço
com Sartre, num café da Broadway, “Breakfast In America” é um triunfo
artístico porque nos faz cantar no duche, sim, mas sobretudo porque nos
faz pensar na vida. E no seu peso insustentável.
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#13 - From A to B - New Musik
Numa tarde quente da primavera de 1980, o bom do Luís Filipe Barros
debita para a frequência da Rádio Comercial uma música que grita
qualquer coisa de novo. Como um sistema físico-químico nunca antes
catalogado, “This World of Water” é visceral e estranha-se para se
entranhar como uma segunda pele, alienígena. Fica no ouvido mas o ouvido
está pasmado.
“From A to B” é isso mesmo: um pasmo. E vai marcar
muita da música que se vai fazer nessa década. É um festival de
criatividade e poder inventivo. É uma maneira airosa de dizer: quero que
os Whitesnake se fo***.
A boa música é assim: pode mandar toda a gente à merda, até os teus heróis, que não parece mal.
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#14 - Iron Fist - Motörhead
1982. A minha mãe volta de Londres com dois discos para mim. Um deles é
este (o outro é “I Love Rock’n Roll” da Joan Jett) e eu devo ser o único
adolescente no planeta Terra que foi iniciado em Motörhead pela senhora
sua mãe.
Todos os puristas do heavy metal vão dizer que este não é o
melhor disco dos Motörhead, mas não quero saber porque este é o MEU
disco dos Motörhead. Uma incursão brutal, minimal, soturna e épica no
Dark Side do rock destes tempos de paleolítica comédia humana. Se Darth
Vader tocasse baixo, tocaria baixo como o Lemmy Killmister. E os resto é
conversa.
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#15 - A Flock of Seagulls - A Flock of Seagulls
O filme de ficção científica que nunca realizei tem esta banda sonora.
38 anos depois de ter sido gravado, o sacana do disco ainda soa muito à
frente: é uma decadente-futurista e visionária discoteca do século
quarenta e dois com, convenhamos, a capa mais feia que alguma vez
escondeu uma rodela de vinil. Mas também com uma malha que deve estar
entre as minhas 20 mais amadas de sempre: "Spage Age Love Song".
A Flock of Seagulls. A banda que te dá asas. De Ícaro.