quarta-feira, maio 20, 2020

A discoteca da minha vida: discos 11 a 15.

#11 - Come'n Get It - Whitesnake 

A cada um a sua justa parte de Kitsch. E a minha legítima quota é esta: "Come an’ Get It", dos senhores Whitesnake. Gosto tanto deste disco. É carne da minha carne e é super piroso (reparem bem na anti-estética redundante desta capa). Em vinil ensinou-me a dar corda à aparelhagem, para que o Coverdale se ouvisse no fim da rua. Em CD Rom perpetuou-se esplendidamente pela minha imaturidade de adolescente de 30 anos e em mpeg tranquilizou-me as dores reumáticas - não estava enganado em 1981, como não estou enganado agora: Come’n Get It é uma colecção de malhas do outro mundo. Cruzando Soul, Folk e Hard Rock, músicos gigantes como Jon Lord, Micky Moody e Ian Paice conseguem dar ao trágico-patético trovadorismo de David Coverdale um palco sonoro digno de qualquer majestade lírica. E se nunca ouviram um tema deste álbum (os Whitesnake posteriores são mais famosos, mas falsos como o raio), oiçam, por gentileza, a superior e autêntica cantiga que coloco em baixo. E depois digam de vossa justa razão.
 



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#12 - Breakfast in America - Supertramp

“Take a look at my girlfriend, she's the only one I got
Not much of a girlfriend, I've never seem to get a lot”


Ao facto de estar com dificuldades em avançar nos anos 80, acresce um regresso a 1979. Mas tem que ser.
O primeiro concerto da minha vida é o da digressão deste disco imortal, no Dramático de Cascais. Era tão novinho que mesmo o meu melhor amigo, que era dois anos mais velho do que eu, teve que levar a irmã para tomar conta da gente. Lembras-te, Zé?
Como acontece com todos os casos anteriores, este disco sou eu e vice-versa. A quantidade de horas de felicidade que os Supertramp me ofereceram, no correr da vida, com esta obra de arte pop, não tem contabilidade possível.
Enquanto em discos de que já falei e noutros que mencionarei a seguir, estes são os anos iniciais da celebração romântica que infectou a pop da década de 80, Rick Davies e Roger Hodgson propõem um registo mais cínico e existencialista, que é um um dedo indicador a rodar sobre uma ferida aberta. Como um pequeno-almoço com Sartre, num café da Broadway, “Breakfast In America” é um triunfo artístico porque nos faz cantar no duche, sim, mas sobretudo porque nos faz pensar na vida. E no seu peso insustentável.





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#13 - From A to B - New Musik

Numa tarde quente da primavera de 1980, o bom do Luís Filipe Barros debita para a frequência da Rádio Comercial uma música que grita qualquer coisa de novo. Como um sistema físico-químico nunca antes catalogado, “This World of Water” é visceral e estranha-se para se entranhar como uma segunda pele, alienígena. Fica no ouvido mas o ouvido está pasmado.
“From A to B” é isso mesmo: um pasmo. E vai marcar muita da música que se vai fazer nessa década. É um festival de criatividade e poder inventivo. É uma maneira airosa de dizer: quero que os Whitesnake se fo***.
A boa música é assim: pode mandar toda a gente à merda, até os teus heróis, que não parece mal.




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#14 - Iron Fist - Motörhead

1982. A minha mãe volta de Londres com dois discos para mim. Um deles é este (o outro é “I Love Rock’n Roll” da Joan Jett) e eu devo ser o único adolescente no planeta Terra que foi iniciado em Motörhead pela senhora sua mãe.
Todos os puristas do heavy metal vão dizer que este não é o melhor disco dos Motörhead, mas não quero saber porque este é o MEU disco dos Motörhead. Uma incursão brutal, minimal, soturna e épica no Dark Side do rock destes tempos de paleolítica comédia humana. Se Darth Vader tocasse baixo, tocaria baixo como o Lemmy Killmister. E os resto é conversa.




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#15 - A Flock of Seagulls - A Flock of Seagulls

O filme de ficção científica que nunca realizei tem esta banda sonora. 38 anos depois de ter sido gravado, o sacana do disco ainda soa muito à frente: é uma decadente-futurista e visionária discoteca do século quarenta e dois com, convenhamos, a capa mais feia que alguma vez escondeu uma rodela de vinil. Mas também com uma malha que deve estar entre as minhas 20 mais amadas de sempre: "Spage Age Love Song".
A Flock of Seagulls. A banda que te dá asas. De Ícaro.