sábado, maio 01, 2021

O meu pé pesado #09: em Silverstone, com Jimmy Broadbent.

Toda a gente que tem interesse nas corridas virtuais sabe quem é Jimmy Broadbent. Porque é um rapaz simpático. Porque é rápido. E porque há uns 8 anos atrás encontrava-se numa muito difícil curva da vida e agora é um milionário do Youtube que acabou de cumprir a sua primeira corrida como piloto profissional.

Jimmy, que sofreu durante boa parte da juventude de depressão crónica, problema que inviabilizou e destitui a sua existência, levando-o à situação extrema de sem abrigo, é hoje uma estrela mundial. Tem um canal no Youtube com mais de 600 mil subscritores, uma multidão incondicional de fãs, dinheiro à farta e uma pequena colecção de automóveis que inclui um Nissan GT. Acontece porém que ainda vive num anexo exíguo de dois metros por quatro, no jardim de casa dos pais, que começou a habitar quando o seu mundo desabou. Talvez porque ainda não se sinta completamente confiante para uma existência independente. Talvez porque o cubículo faz parte integrante da sua imagem de marca.

Ainda assim, e depois de dar inúmeras provas de competitividade nas corridas virtuais, vencendo as 24 Horas de Le Mans e as 500 milhas de Indianapolis e conseguindo subir ao pódio por várias vezes em muitas das mais reputadas e exigentes competições online do calendário da simulação de corridas, a Praga, que é uma marca de protótipos que corre no Britcar Endurance Championship, convidou-o para pilotar um dos seus carros. Vemo-lo aqui, em primeiro plano, com alguns dos pilotos da sua classe.


O Praga R1 que Jimmy conduz é motorizado por um Cosworth Turbo que debita 365 cavalos e está montado num chassis em carbono que pesa apenas 643 quilos, pelo que se trata de uma bomba a sério. Ei-lo em todo o seu esplendor:

A primeira corrida deste campeonato de resistência teve lugar a semana passada em Silverstone, na variante "International" do lendário traçado inglês. A variante é bem mais curta que o circuito onde se corre, por exemplo, o grande prémio de Fórmula 1 britânico, mas é bastante desafiante em termos técnicos, com três curvas cegas (Abbey, Chapel e Stowe), muito rápidas, que são difíceis de negociar na perfeição.

Concretizando o sonho de uma vida, Jimmy Broadbent não se saiu mal de todo, considerando a sua inexperiência e, sobretudo, a inadequação física às exigências de condução de um protótipo com uma relação peso potência incrível e sem direcção assistida. Muito bem acompanhado pela piloto Jem Hepworth com quem faz equipa na Team J2, o célebre sim racer conseguiu fazer quarto na classe e sexto na geral, no computo das duas mangas da prova.

Eis o testemunho vídeo de Jimmy, que, como bom Youtuber, vê na sua carreira como piloto da vida real uma oportunidade imperdível para enriquecer o conteúdo do seu canal.



Ora, como sigo este bom rapaz já há uns anos, e estou contente com o seu trajecto e orgulhoso dos seus sucessos, celebro aqui no blog a sua primeira corrida como piloto profissional, mimetizando virtualmente, dentro do que é possível, esta aventura.

O Assetto Corsa inclui o Praga de 2016, que é um protótipo parecido com o actual, praticamente com o mesmo chassis e com o mesmo motor Cosworth, embora atmosfericamente aspirado. Este carro tem assim menos 80 cavalos ou coisa que o valha e praticamente o mesmo peso.

Devo dizer que nunca até aqui tinha conduzido o Praga e que a variante "International" de Silvestone também não me é muito familiar, embora conheça bem os dois terços do perímetro que constituem o circuito original. Por isso, e porque no Assetto Corsa corro sempre com a inteligência artificial ligada nos valores máximos, estava um bocado céptico sobre a minha capacidade performativa.

Mas depois das primeiras voltas da sessão de qualificação, fiquei mais tranquilo. E aproveitando uma volta com a pista completamente desimpedida, consegui fazer 1'06''112, o segundo melhor tempo da sessão.



Antes de passarmos à corrida propriamente dita, uma nota: o Jimmy corre num modelo de competição multi-classe e endurance, tendo que gerir psicologicamente o impacto assustador dos monstros GT que o rodeiam, comparativamente muito maiores e mais altos,  manobrar constantemente entre carros mais rápidos e mais lentos e resistir fisicamente a uma prova que parece que nunca mais acaba. A minha corrida, por outro lado, é um sprint de 15 voltas, feito entre 15 carros da mesma classe (o Assetto Corsa não permite mais oponentes em pista e o modo multi-classe colocaria carros em pista que não têm nada a ver com nada).

A corrida acaba por ser um bocado secante, para quem vê, porque é extremamente realista. Partindo de segundo, faço as primeiras voltas com uma pica danada para apanhar o líder, até porque me parecia que estava mais rápido na saída da primeira curva. Mas não é por acaso que o carro da frente tinha feito a pole e acabei apenas por gastar mais borracha do que devia porque não mostrei de facto a perícia necessária para acompanhar o ritmo do sacana. As primeiras sete voltas são assim um bocadinho monótonas.



A partir da volta 8 ou 9 comecei a perceber que não ia conseguir ganhar a corrida e que os pneus estavam a acusar o desastrado esforço a que os tinha submetido. Com o passar do tempo, a concorrência que vinha atrás começou a ganhar terreno e nos últimos minutos a coisa ficou um pouco mais emocionante, porque tive que me empenhar loucamente para resistir aos ataques do AI que vinha em terceiro. Acabei por conseguir manter o segundo lugar numa corrida que, apesar de ter decorrido sem ultrapassagens me parece, até por isso, bem fiel à realidade.



Deixo também as duas últimas voltas, que são as mais emotivas, vistas pelas câmaras exteriores, até para que se tenha uma ideia da estética do Praga e do ambiente de Silverstone no Assetto Corsa.
Boa viagem.