terça-feira, agosto 31, 2021

Não, Deus não pode criar uma pedra que não possa levantar. E daí?

Um dos argumentos mais fraquinhos da história universal do ateísmo é este: se Deus existe e é omnipotente, pode criar um pedregulho de tal forma gigantesco que ele próprio não pode levantar e assim, não é omnipotente. Logo, não será Deus. O conceito de Deus é, em si mesmo, contraditório.

Isto, claro, é um raciocínio de quarta classe que se resolve em dois minutos, à mesa de um café, antes do café chegar à mesa; mas Dinesh D'Souza, com a sua habitual e lúcida capacidade retórica, e o seu conhecimento da escolástica medieval (Santo Agostinho, S. Tomás de Aquino, S. Jerónimo, etc. etc.), desfaz o raciocínio de uma ponta a outra, sem deixar margem para dúvidas.


Eu, de qualquer forma, sintetizo:

I . Por definição, nada existe superior a Deus. Logo;

II . Deus não pode criar uma pedra que ele não possa levantar porque essa pedra não existe. Ou melhor:

II . Divina omnipotência não significa que Deus possa fazer seja o que for. Significa que Deus pode fazer tudo o que lhe seja possível fazer. A criação de algo que transcenda os seus poderes será impossível porque nada supera a sua existência (não confundir aqui o que é possível para Deus com o que é possível para o Homem). E assim:

IV . O facto de Deus não poder criar uma pedra que não possa levantar não é um argumento a favor da sua falência lógica, mas sim o resultado lógico da sua omnipotência.


Está resolvido o problema, que não chega a ser um problema, tanto como é uma idiotia.

O irónico aqui é que até na conversa interessantíssima de Dinesh residem pistas para que os ateus que tentam desmontar a existência de Deus não pareçam tão néscios assim. Por exemplo: pode Deus alterar o passado? Pode Deus transformar uma mulher que gerou filhos numa virgem (não confundir com o caso de Maria, que é inverso e que não tem implicações no eixo cronológico da existência)? Pode Deus permitir que a raça humana, sua criação, se liberte da sua esfera através do ateísmo generalizado ou da evolução tecnológica (inteligência artificial, poderes biónicos divinos ou sem-divinos, etc.)? Porque ofereceu Deus o livre arbítrio ao Homem, sabendo perfeitamente que o resultado dessa liberdade é, recorrentemente, o horror?

Estas questões também têm respostas certeiras, mas pelo menos dão mais prazer intelectual a formular.

Assim, fica só o ateísmo niilista a falar sozinho, no labirinto da sua estupidez.

Até porque, no contexto do Século XXI, parece-me que qualquer individuo minimamente informado e consciente precisa mais da fé para ser ateu do que aquela que é necessária para ser crente. 

Não sei, digo eu.