Imaginem, por um momento - e se conseguirem ser de tal forma fantasistas que estarão a correr o risco da esquizofrenia - que o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas Americanas, o General Mark Milley, faz, em Outubro de 2020, um telefonema secreto ao seu compadre chinês para lhe dizer o seguinte:
"Camarada, folgo em ouvir-te, pá. Olha, lá por termos um atrasado mental na presidência aqui desta confusão de estados, posso-te garantir que farei tudo o que puder para que a China não seja agredida pelas forças que comando. E, no caso maluco de te falhar nesta profissão de fé, juro que te dou nota prévia, que é para poderes matar soldados americanos à tua vontade, se for esse o caso, ou planeares a invasão de Taiwan sem stress nenhum.
Não, não me agradeças, por deus, obrigado sou eu, por seres um camarada tão querido.
Abração apertado e apresenta por gentileza cumprimentos meus à família e ao Comité Central."
Não é verdade. Não pode ser verdade. Se existe a figura de traição à pátria, num abstracto código militar, esta merda bate os recordes todos. Isto é má ficcção.
Exacto. A má ficção que consubstancia a realidade dos tempos que correm, satânicos.
A notícia de que o General Mark Milley teve de facto uma conversa do género que invento em cima, não vem de nenhum jornal conservador. Pelo contrário. Vem do Washington Post. E a "caixa" não é gerada por nenhum activista millenial da corda ou youtuber populista da treta. Não. A notícia é gerada por um livro, "Peril", escrito por Bob Woodward (um dos dois repórteres do célebre caso "Watergate") e Robert Costa. Ambos liberais. Ambos insuspeitos e altamente reputados personagens do establishment.
Mais: a fonte do infame telefonema será muito provavelmente o próprio General Mark Milley. Que sabe perfeitamente da impunidade que reina na sua terra de ninguém, e que está neste momento a ser celebrado pelos media por ter cometido este inacreditável acto de declarada desobediência a um princípio sagrado da Constituição Americana: quem manda nas tropas é o presidente da federação, que foi eleito para representar as aspirações dos seus eleitores.
O corrupto general é autor, objectivamente, de uma espécie de definição contemporânea de golpe de estado militar.
Ainda assim, vai continuar a presidir à maior máquina bélica da História da Humanidade. Agora expliquem-me lá que sentido faz isto.