Hoje, olhando as ruínas do 11 de Setembro, não consigo deixar de ali vislumbrar aquilo que de mais importante me escapou há 20 anos atrás: os escombros da concepção político-social que fez o Ocidente. E sendo eu um crente convicto no sucesso do risco-liberdade, bem como na tragédia que espera sempre aqueles que, munidos da obsessão pelo controlo, decidem seguir a avenida do medo, revendo agora as imagens das torres a desmoronar, invade-me a estranha intuição que foi também ali que, de certo modo, colapsou o mundo livre onde nascemos — e o momento em que, das cinzas, se começou a erguer a distopia sanitária que agora, para tristeza e revolta daqueles que ainda se lembram, merece aplauso generalizado nos media e nas redes sociais (convenientemente revistas e certificadas pelas “autoridades” competentes). Extraordinária e trágica mudança esta que vivemos em apenas 20 anos.
Nuno Lebreiro . "Vinte Anos Depois" . Observador . 10/09/21