terça-feira, outubro 26, 2021

A catástrofe informacional.


Melvin M. Vopson, professor de Matemática e Física da Universidade de Portsmouth, tem nos últimos anos entretido o tédio - e a audiência académica - com 3 papers interessantes, no mínimo, e apocalípticos, no máximo.

Num paper de Agosto de 2019, parte do Princípio de Landauer, que em 1961 postulou que a irreversibilidade da lógica implica a sua irreversibilidade física, demonstrando assim que a informação é uma realidade material, para estipular aquilo que denominou o Princípio da Equivalência entre Massa, Energia e Informação, calculando que um bit de informação (300K) corrresponderá a 3.19 × 10-38 quilogramas.

Num outro paper publicado em Agosto de 2020, Vopson chega à conclusão, baseada no seu Princípio da Equivalência entre Massa, Energia e Informação, que a civilização humana caminha rapidamente para uma catástrofe informacional. É que actualmente produzimos ∼1021 bits por ano, mas, considerando um aumento anual de 20%, o bom do professor estima que daqui a aproximadamente 350 anos o número de bits produzidos será superior ao número de átomos constituintes do Planeta Terra. Nessa altura, a energia requerida para sustentar esse corpo informacional excederá a totalidade do consumo energético que despendemos para fazer funcionar a civilização toda, nos dias que correm. Daqui a aproximadamente 500 anos, o conteúdo digital será equivalente a mais de metade da massa do planeta. O volume energético exigido por essa massa imensa será, mesmo projectando novas e renováveis formas de criação de energia, impossível de obter. Estaremos assim perante uma singularidade. Uma catástrofe informacional.

Por fim, em Agosto de 2021 (os papers de Vopson funcionam paralelamente como um relógio solar), o Professor de Portsmouth publicou um cálculo do valor total de informação presente no universo observável, que será, segundo as suas contas, 6.036 × 1080 bits. Este valor não conta com a energia negra, nem com a matéria negra. Conta apenas com a informação contida em  electrões, protões e neutrões e nos seus quarks constituintes, ignorando a informação que pode ou não ser guardada em bosões, neutrinos e outras partículas elementares mais exóticas ou ausentes do Modelo Standard da Mecânica Quântica. Será por isso, provavelmente, um resultado que peca por defeito.

Todos este princípios e cálculos são meramente teóricos e está ainda por demonstrar experimentalmente a virtude do Princípio de Landauer, que está na base de tudo o resto. Além disso, os cálculos de Vopson terão necessariamente uma margem de erro muito significativa e não sei o suficiente de matemática para perceber se levam a entropia em devida conta, já que uma boa fatia da informação que é criada pela civilização acaba por se perder, por falência técnica dos sistemas, erro humano ou redundância dos conteúdos. Mas há aqui verdades empíricas que não são negligenciáveis, como o consumo energético que os sistemas informáticos implicam (não é por acaso que a capacidade performativa de um computador se mede em Hertz). Nesse sentido, e considerando o ritmo exponencial de criação de conteúdos digitais da sociedade da informação, a catástrofe espreita, de facto.

Acresce que as teses do professor Melvin M. Vopson contribuem para a teoria do universo como criação virtual, ou computacional, se preferires, incrédulo leitor, porque se em menos de um século de actividade cibernética o Sapiens já consegue produzir ∼1021 bits por ano, dado o necessário volume de tempo, e partindo da hipótese que a raça sobrevive a esse tempo todo, poderemos em última análise criar o mesmo volume de informação de que é constituído o universo: 6.036 × 1080 bits. Ou seja, podemos nós, humanos, ascender também ao estatuto divino de fundadores cosmogónicos.

Não estou muito inclinado a acreditar que o cosmos seja uma espécie de Matrix, na verdade, até porque esse tipo de especulações transportam-nos para a hipótese do multiverso, realidade desmedida que retira qualquer significado não só à vida humana em particular, mas também a este nosso universo, já de si vasto quanto baste. E nunca chegamos a qualquer conclusão filosófica decente quando desvalorizamos e fragmentamos numa míriade de imensidades a natureza concreta. Mas lá que este assunto dá que pensar, isso é certo. Não achas?