terça-feira, outubro 05, 2021

Não é por atirarmos protões uns contra os outros que ficamos mais sábios. Muito antes pelo contrário.

‘Agora sabemos que nunca saberemos.’
Werner Heisenberg

‘Se pensas que entendes a Mecânica Quântica é porque não entendes a Mecânica Quântica.’
Richard Feynman


Em 1927, Werner Heisenberg postulou, no seu célebre Princípio da Incerteza, a impossibilidade de determinar com exactidão a posição de uma partícula num dado momento. Tudo o que podemos mensurar na mecânica quântica são probabilidades e não mais que probabilidades e quanto mais rigorosos queremos ser, pior serão os resultados, porque a gesta científica está condenada a alterar a natureza e o comportamento do objecto em estudo.

Não era por certo essa a intenção do célebre físico germânico, mas a verdade é que o seu famoso Princípio determina, num certo e pesado sentido, o fim da ciência. A impossibilidade técnica de conhecer a matéria é uma ferida epistemólógica muito difícil de sarar.

Ainda por cima, o universo sub-atómico é deveras fantasmático. Dependendo da temperatura e da velocidade que traz, um bosão pode ser uma partícula agora e uma onda depois; pode estar aqui e ali ao mesmo tempo, passar simultaneamente por duas fissuras paralelas, atravessar paredes como se nada fosse e emaranhar-se com outro bosão a 15.000 kms de distância, de tal forma que se sujeitarmos um deles a um input qualquer, os dois vão responder da mesma maneira. É tudo muito estranho.

Em Junho de 2018, H. J. D. Miller e J. Anders publicaram um paper na Nature Communications que acrescenta à incerteza topográfica e à incerteza cronológica, a incerteza termo-dinâmica: estipular a temperatura de uma partícula sub-atómica é um exercício de loucos. A partícula pode ter duas temperaturas em simultâneo (ou nenhuma, na verdade), como o gato de Schrödinger pode estar morto ou vivo, na caixa onde pode ou não decair o isótopo radioactivo. Sempre que tentamos saber, sempre que tentamos medir, o termómetro ensandece.

Dada esta disposição da matéria subatómica para não se deixar conhecer, e a sua radical incompatibilidade com as leis da física dos corpos celestes e da realidade em que existimos, tem sido cada vez mais doloroso o processo de encontrar leis unificadoras, que tragam alguma consistência ao modelo materialista de entendimento do cosmos. Esta dificuldade transformou-se rapidamente num desespero e do desespero resultam as teorias insanas e absolutamente indemonstráveis que infectam o ambiente académico contemporâneo.

Recusando abandonar a velha e nitidamente anacrónica ambição positivista de que tudo no universo pode ser conhecido e mensurado, a comunidade científica tem convencido governos, universidades, fundações e outros incautos filantropos a construir estruturas faraónicas como o LHC,  que procura obter respostas concretas sobre os mistérios da quântica atirando partículas umas contra as outras a velocidades próximas da luz. Os resultados têm sido extremamente fraquinhos: para além de termos percebido que o célebre bosão de Higgis existe de facto, não sabemos porém e agora mais sobre a natureza da matéria do que sabíamos antes e o que sabíamos antes é basicamente o que Platão já nos tinha ensinado há coisa de 24 séculos atrás: essa quimérica equação que resolve e erradica o mistério, não nos é dada.

Azar dos azares.