quinta-feira, novembro 25, 2021

Guerra ao Meme: o episódio Corbyn.

Jeremy Corbyn, o comunista que já foi líder do partido trabalhista inglês até ser esmagado eleitoralmente por Boris Johnson, foi, aqui hás uns anos e seguindo o seu famoso (ou infame?) instinto anti-semita, apanhado a depositar uma coroa de flores num memorial aos terroristas palestinianos responsáveis pelo massacre do Jogos Olímpicos de Munique de 1972, na embaixada da Palestina na Tunísia. Apesar de Jeremy negar disparatada e desavergonhadamente o seu envolvimento nessa cerimónia, trata-se de um facto que está documentado pelo The Guardian, pasquim insuspeito nesta matéria porque a sua redacção está repleta de activistas que veneravam - e veneram - o sujeito em causa:

Este acto impensado e impensável de Corbyn gerou polémica na altura e acabou por ser premiado com, entre muitos outros, este magnífico meme:

Acontece que os tempos que correm são o que são e a verdade passa a mentira e a mentira a verdade com uma facilidade incrível e Corbyn, confrontado com este assertivo exercício de humor negro decidiu processar o seu autor por difamação. Não há difamação nenhuma porque o meme refere-se a um facto inegável. E mais: se o humor passar a ser escrutinado desta forma, mesmo quando estica a verdade dos factos (o que nem por isso acontece neste caso específico), vamos ficar rapidamente sem motivos para sorrir. Vamos ficar rapidamente privados da comédia.

É claro que os memes que estão a ser cancelados e que são hoje declaradamente perseguidos pelos poderes instituídos são apenas os que são gerados pela direita do espectro político, como já documentei aqui e aqui e aqui, e é outrossim evidente que os memes gerados pela esquerda não têm, na sua maioria, piada nenhuma porque a esquerda não pode ofender ou sensibilizar ninguém e o humor não convive bem com a ultra-civilidade e o pudor esquizofrénico que são exigidos pela tirania woke.

Por isso mesmo, não deixa de ser grave que os actores políticos e as estruturas burocráticas estejam tão preocupadas em censurar a sátira. Para além da atitude persecutória, inédita nas sociedades ocidentais, ser um sinal óbvio do impulso totalitário a que estamos a ser sujeitos num crescendo imparável (só os tiranos são intolerantes à paródia), se nos retirarem o humor de direita vão acabar por nos retirar o humor de todo.

É verdade que as hipóteses de que Corbyn ganhe na justiça o que perdeu em credibilidade com o seu acto irreflectido são bastante remotas. Mas o precedente de levar a tribunal o autor de um meme, está agora aberto no Reino Unido. E esse precedente é lamentável. E deveras preocupante.