Chegados aos dois troços da Escócia que o Dirt Rally 2.0 tem para oferecer aos seus masoquistas clientes, percebemos rapidamente porque é que o bom do Colin Mcrae, que estava nas florestais dos arredores de Perth como a sardinha ao largo da Arrábida, ficou conhecido como um dos mais intrépidos pilotos de ralis da história do automobilismo: ou tens por sorte genética uns testículos volumosos, ou vais ser rápido como um caracol a progredir na contra corrente de um tapete rolante.
Como na Polónia, o traçado destas etapas (na vida real localizado na Tay Forrest Park, perto da vila de Kinrossie) é estreito e escorregadio, mas ao contrário da Polónia, as estradas incluem trechos sinuosos à brava, com curvas cegas super traiçoeiras, que contrastam com segmentos mais rápidos, mas que foram, aqui e ali, maliciosamente equipados pelos madeireiros da região com pilhas de troncos nas bermas, que reduzem a margem de erro para o zero absoluto. Um ligeiríssimo toque que dês nestes perigosos amontoados de madeira implica que vais ficar instantaneamente virado ao contrário na estrada. Se o impacto for um pouco menos ligeiro, já foste. É carregar restart.
E, como sempre na série Dirt Rally, estes convites ao desastre existem mesmo na realidade das florestais de Perth:
Para ajudar ao caos, e talvez aterrado pelos riscos inerentes a cumprires velozmente troços cuidadosamente desenhados para promoverem o suicídio, o co-piloto transforma-se numa histérica máquina de debitar informação. A velocidade a que o desgraçado cospe as notas torna a sua interpretação praticamente impossível. Este é assim o rali em que o instinto e o conhecimento do traçado vale tanto ou mais do que as referências de navegação.
Neste primeiro post sobre o rali escocês, faço nos dois sentidos o troço de South Morningside, que tem 12,5 kms de extensão. O troço inclui um segmento (o primeiro numa direcção e o último na outra) que é, na minha opinião, um dos mais técnicos entre todos os ralis do Dirt Rally 2.0, com muitas curvas apertadas e estreitas que têm que ser negociadas com enorme precisão.
Na direcção sul/norte/sul, o meu desempenho deixa a desejar. É evidente que, como já tinha avisado no post com que iniciei esta série de contrarrelógios, conheço mal este rali. Hesito muito a 500 metros do fim enfio-me por uma valeta a dentro e ia morrendo. Mas como só tenho duas horas para cada prova, tenho que me resignar.
A posição na tabela revela bem que não estou à vontade na Escócia.
consigo apenas um lugar entre os 1300 primeiros, e fico sempre frustrado
quando nem no primeiro milhar consigo entrar, mas enfim.
No sentido inverso, faço um tempo cinco segundos mais lento, mas termino numa posição bastante superior, talvez porque o percurso nesta direcção obriga mesmo a mais cautelas, talvez porque a tabela mundial inclua menos participantes, talvez porque, com mais duas horas de prática, tenha começado a perceber melhor o espírito cruel deste traçado, não sei. Ainda assim, a prova é tudo menos limpa. Mas na Escócia, ou queres fazer uma prova limpa ou queres fazer um tempo decente. As duas coisas ao mesmo tempo, para o meu nível de desempenho é um bocado difícil, principalmente com um tempo limite que determina o número de tentativas possíveis.
Seja como for, a posição entre os setecentos primeiros não me chateia muito, até porque mesmo que fizesse menos um ou dois segundos, o rating não se ia alterar de forma significativa.
A ver vamos se consigo fazer melhor no troço seguinte, que vai ficar para um post a publicar mais adiante.
Seja como for, o scotch whisky deve ter sido inventado para consolar os pilotos no fim de cada etapa cumprida nestas florestais. Eu sei que depois disto, preciso de um.