quarta-feira, novembro 24, 2021

Porque raio é que o cinema contemporâneo é tão mau? Um mestrado.

Em dois ensaios de análise pertinaz e comentário lapidar, The Critical Drinker explica porque é que tens saído das salas de cinema, nos últimos anos, com aquela sensação de que sétima arte já não é uma arte. Com aquela sensação de que os personagens não têm profundidade, as histórias não tem substância, os actores não têm carisma. Com aquela sensação de que já não há heróis, já não há valores transcendentes que justifiquem as jornadas épicas, já não há qualidade literária nos diálogos, já não há racionalidade nas motivações nem lógica nos comportamentos.

O ensaísta, entre uns valentes shots de whisky, explica-te bem explicado porque é que ficas invariavelmente desconfiado de que a fita que viste não foi criada para te entreter, mas para te doutrinar; não foi filmada para te esclarecer, mas para te confundir; não foi realizada para te elevar, mas para te insultar; não foi produzida para tua fruição, mas para tua condenação.



As indústrias cinemáticas sempre foram na verdade máquinas políticas, aparelhos propagandísticos programados para a convergência da opinião, espécie de incubadoras do pós-modernismo responsável pelo sacrifício da arte no altar niilista do relativismo moral e estético de tudo. Mas hoje, mais do que nunca, deixaram de se preocupar com a subtileza, a criatividade, o cuidado técnico, a qualidade artística, o padrão performativo, a credibilidade narrativa. São oficinas de baixa indústria que trabalham com o único propósito de debitar a ideologia woke das elites, a agenda globalista das grandes corporações, o novo comunismo capitalista das super estruturas burocráticas.

Já nem a boa e velha ganância, motor histórico de prosperidade, serve aos radicais que passam hoje por cineastas. Não importa o prejuízo dos filmes que ninguém quer ver, desde que a mensagem seja a correcta, desde que o conteúdo seja devidamente sovietizado. Não importa o fosso cada vez mais abismal entre os críticos arregimentados para aplaudir a desgraça e os públicos que rejeitam a charlatanice. O rei vai nu, mas vai convicto de que a sua nudez, de que o seu ridículo, triunfará sobre a barbárie das massas, reaccionárias e ignorantes. O rei vai nu, mas vai convicto de que o seu impudor triunfará, dada a ausência de alternativas, a falência da iniciativa independente e a extinção mediática da divergência.