quinta-feira, novembro 11, 2021

Quem vê caras não vê imperadores.

Equívocos, falsificações, ignorância, egocentrismo, carreirismo. Uma quantidade substancial de desvios à verdade histórica e às evidências arqueológicas dificultam a atribuição assertiva de rostos a nomes: estátuas de césares são alteradas conforme as narrativas regimentais; bustos de aristocratas trocam de identidades ao longo do tempo; faces de imperadores cunhados nas moedas são catalogados em função de modas e correntes intelectuais; representações em pinturas clássicas são interpretadas sob premissas discutíveis. E os embustes passam assim a espólio de museus. E os erros de interpretação passam assim a teses académicas.

Nesta bem disposta e entretida palestra de Mary Beard, a célebre e mediática professora de Cambridge demonstra que muitas das associações entre os rostos de pedra, de bronze e de óleo sobre tela e as personagens do Império Romano, não sobrevivem a uma análise informada e racional, nem à peritagem forense.

Um momento de lucidez, que nos obriga a redesenhar a imagem que temos dos protagonistas da civilização que Rómulo fundou.