quarta-feira, dezembro 15, 2021

O meu pé pesado #17: A rezar pela linha de chegada, no labirinto rochoso da Argentina (parte 1).

Chegou o momento do mais lento e tortuoso desafio do Dirt Rally 2.0: os dois troços da passagem do mundial de ralis no célebre "El Cóndor", uma região montanhosa e inóspita da província de Córdoba, Argentina.

Imaginem uma estrada estreita de gravilha solta com muita pedra, cheia de altos e baixos, rodeada de rochas por todo o lado, com cerca de 3 ganchos por cada mil metros. Imaginem que têm que ser rápidos nesta estrada. Por. Amor. De Deus.





Uma das características essenciais quando tentas conduzir numa qualquer competição automobilística é a fluidez. No El Cóndor, a fluidez só é acessível aos mestres. O plebeu como eu limita-se a tentar sobreviver sem se espetar no granito. É impossível escapar à lentidão, à hesitação e ao erro, neste sinuoso labirinto de pedra.



O primeiro troço em que peguei, "Camino a La Puerta" na direcção Este/Oeste e "Las Juntas" na direcção Oeste/Este, inclui 21 ganchos na sua curta extensão de oito quilómetros e pouco. Ainda por cima, na maioria dos casos são ganchos muito estreitos e muito apertados: puxas do travão de mão com um bocadinho mais de entusiasmo e acabas por bater com a traseira na parede rochosa. Se és mais tímido, não consegues sair da curva de forma eficaz. De uma maneira ou de outra, serás lento. Nos poucos metros em que podes abrir um bocadinho mais a torneira do gás, tens que ser dono de uma condução extremamente precisa, porque estás constantemente a milímetros das rochas. A precisão porém torna-se bastante difícil de concretizar quando os solavancos da estrada te dificultam o domínio do carro e a visibilidade sobre o traçado.

Na direcção "Camino a La Puerta" tenho muita sorte. Dou dois ou três toques nas rochas, mas são tão ligeiros que não perturbam as trajectórias. Os erros de avaliação dos pontos de travagem e as hesitações sobre os momentos em que devo libertar os cavalos do Fiesta são porém mais que muitos, pelo que não consigo fazer melhor que uma marca entre os 700 primeiros.



Em "Las Juntas" fico com a sensação que conduzi melhor, que fui mais rápido, faço de facto um melhor tempo, mas na classificação recuo para um redondo 900º. Neste caso desconfio mesmo que esta tabela inclui mais concorrentes que a anterior (o número de participantes no Time Trial do Dirt Rally oscila muito, entre as dezenas e as centenas de milhar).



Uma nota importante: o set up do automóvel é essencial para conseguir bons tempos seja em que prova for, mas neste rali é mesmo determinante. Não deixo registo do meu porque não sou um perito na afinação dos automóveis, mas no Youtube há muita gente qualificada  a partilhar set ups específicos para cada rali (este vídeo aqui, por exemplo, parece-me dar boas referências).

Para a semana há mais do mesmo: outro troço argentino entre a pedra e a parede.