domingo, fevereiro 27, 2022

À escuta do inimigo.

Em vez de formarmos opinião apenas pelo que dizem as elites, os aparelhos de propaganda e as tribos das redes sociais, que da direita à esquerda e de alto abaixo do espectro ocidental, parecem estar todos de acordo (o que já é bastante suspeito e de qualquer forma redundante), talvez não seja má ideia ouvirmos o que dizem os russos.

No podcast que partilho e recomendo, lemos o outro lado da História. E percebemos como estamos a ser enganados ao minuto. Um exemplo: os tais heróis de Snake Island não morreram. Estão vivos. Renderam-se às forças russas. A homérica versão dos acontecimentos, como foi contada na web e por alguns órgãos de comunicação social, é falsa.

Outro exemplo: porque as forças invasoras não conquistaram Kiev em 24 ou 48 horas - a capital de um país com 42 milhões de habitantes e cerca de 200.000 militares no activo, fortemente armados pelos Estados Unidos - a operação é já um fracasso, anunciado triunfalmente e com coros gregos ao fundo pelos media ocidentais. Mas a reflexão independente é sempre boa conselheira: se Moscovo pretendesse ganhar esta guerra em 24 horas nem precisava de enviar um soldado para o terreno. Bombardeava barbara e massivamente (tem tecnologia instalada para isso) as cidades, as estruturas industriais e o centros militares estratégicos ucranianos. Como gostam de fazer os americanos e se possível com drones, que é um processo mais limpinho de matar grandes quantidades de pessoas.

Não foi isso que aconteceu nem é isso que está a acontecer (por enquanto), porque Putin quer ficar para a história do seu país, mas não como um carrasco. Quanto mais rápida é uma guerra, mais brutal será. E a "lentidão"(passo o termo) do avanço russo pode significar apenas contenção e não necessariamente incompetência militar ou incapacidade operacional no terreno.



Sendo o actual Czar um especialista em técnicas de guerra informacional, a malta deste lado não lhe fica muito atrás e este conflito está a ser mediaticamente conduzido no Ocidente como conduzida foi a pandemia: crias o pânico, desvirtuas a realidade e estabeleces o monopólio da opinião, censurando ou punindo a dissidência. Sobre a virtude das fronteiras da Ucrânia, como sobre os benefícios de vacinar crianças de oito anos, temos todos que pensar da mesma maneira.

Não, não temos.