Se és russo, serás banido.
Ou assim pensam os doutos sábios da Universidade de Milano-Bicocca, que decidiram interromper o ensino de Fiódor Dostoiévski. Porque Fiódor Dostoiévski, apesar de ter morrido em 1881, tem imensas responsabilidades no que está a acontecer na Ucrânia.
E Chekhov, que há-de estar a torcer por Putin no Olimpo dos escritores russos, cancelem já o gajo! E Gogol, também. E Tolstoi, bom Deus, tudo o que é Tolstoi deve ir já para a fogueira. E Solzhenitsyn, que nunca devia ter saída da Sibéria. E Bulgakov, e Zamyatin e Grossman e Pushkin e Saltykov-Shchedrin: terroristas que têm que ser corridos dos conteúdos curriculares das academias de todo o mundo!
Entretanto, a universidade milanesa voltou atrás na sua insana iniciativa, não porque tenham tido um ataque de bom senso, mas porque foram pressionados loucamente por políticos e personalidades académicas.
Mas a ideia, insidiosa e imbecil, vai germinando. Vai infectando o ambiente já de si putrefacto. E anuncia o que vem aí já a seguir.