sexta-feira, abril 08, 2022
A discoteca da minha vida #111: "The Five Ghosts", Stars.
Se os canadianos se podem orgulhar de três ou quatro bandas com génio no século XXI, uma delas é esta e "The Five Ghosts", de 2010, é talvez o trabalho, entre os 4 que conheço, porque a banda soma 22 anos de actividade e ainda agora editaram mais um disquinho, que melhor expressa o talento, a energia, a sensibilidade e o delicioso optimismo dos Stars.
A eletroquímica gerada pelo dueto vocal Torquil Campbell / Amy Millan, sobreposta a um palco sonoro digitalizado mas extremamente texturado, cria uma ambiência meio neo romântica, meio new wave, câmara de ressonância pop que encontra espaço para uma identidade original, carregada de poder inventivo.
A música dos stars é muitas vezes fantasmática, percorre corredores cerrados de trevas, mas traz sempre uma lanterna que ilumina o espírito do audiente: mesmo quando prometem assombrar o mundo, os Stars apenas lançam sobre ele um encanto e o arrepio na espinha não provém do terror, mas de uma espécie de benção, que acaricia os sentidos e dá vida aos tornozelos.
Os stars estão para a pop como Kierkegaard para a filosofia: percebem que a existência é uma condenação, mas abordam a fatalidade como um desafio lírico, na esperança de que a sua arte funcione como resolução das avarias da vida. Se a realidade está escangalhada, a música serve-lhe de arranjo.
A música aveludada, cortês e positiva desta banda de Toronto leva-nos numa viagem idealista, na qual somos tratados como passageiros de primeira classe: os Stars apostam na qualidade de serviço. E ninguém pode dizer que não cumprem o que prometem.
"The Five Ghosts" é um disco inspirado. Com um lugar muito especial na discoteca da minha vida.