Há gente que vai a Fátima
Honrar a Deus.
Eu vou até à última praia de S. João.
Tenho o Tejo pelas costas,
O Atlântico pela frente.
Falta-me uma nau.
A minha praia
É a mesa do Lorosae.
Sento-me na canícula da esplanada.
Levanta-se uma brisa fresca.
Sexo com Deus.
Venho para aqui por causa do sol.
E dos haikus.
Venho para aqui por causa
Do molho de mel e mostarda
Que abençoa os croquetes de alheira.
No meio das dunas
Encontras paz.
E bichos.
Não é por acaso que o vinho que bebo
Se chama
Sossego.
Trouxe comigo o Suetónio.
São as rotinas que me definem.
Demorei vinte minutos a chegar aqui.
Acabei por não cair assim tão a leste
Do paraíso.
Depois de duas semanas enfiado
Na caverna do escritório,
Sabe bem a luz desta verdade.
Cometi muitos erros na vida, mas
Não sei bem se devo
Arrepender-me deles.
O ContraCultura ainda não nasceu
Mas já me está a matar.
Quando era jovem tinha tesão
Mas era um teso.
Agora não tenho nem uma coisa, nem outra.
Passa uma trupe de aprendizes de surfistas.
A sua desastrada inocência
Emociona-me.
A minha vida é estática.
O único movimento detectável
É em direcção à morte.
Tanta vez leio os 12 Césares
Que hei-de acabar por morrer
Nos idos de Março.
Não me entendo com a humanidade
Mas o problema
Não é meu.
Se a minha cadela não fosse desvairada,
Sempre tinha uma companhia,
Aqui.
Tenho fé nas razões de Deus
Mas ainda estou por entender
Porque raio fui concebido.
Gosto de sonhar acordado.
Quando durmo, não.
Escrevo vezes sem conta o mesmo haiku
Até que fique realmente
Imperfeito.