sexta-feira, setembro 02, 2022

Até arrepia.

Esta imagem arrepia-me, sinceramente. Parece saída de um filme sobre o triunfo do mal, ou coisa que o valha. 

Escrevo esta frase vezes sem conta mas tenho que a escrever outra vez: a realidade supera a ficção. Todos os dias. Não há trabalho de invenção imagética que retrate o lado diabólico do poder como esta. Poça.

E muito para além da encenação, a mensagem política não pode ser mais orwelliana: a união é divisão. A concórdia é exclusão. A luz é escuridão. A democracia é tirania.

E outra vez: se isto fosse encenado para fins ficcionais nunca seria tão eloquente, tão visceral, tão teatral. Esta gente está a esfregar-nos na cara todo um programa gráfico e semântico de inspiração totalitária como se nada fosse. Como se a história tivesse deixado de existir. Como se não tivéssemos obrigação de saber como é que isto vai acabar. Como se a dimensão dramatúrgica dos pesadelos tivesse penetrado definitivamente o tecido da realidade.

Impressionante.

Tucker Carlson pegou neste "discurso à nação" de Biden praticamente enquanto ele decorria, tal foi o flagrante delito iconográfico e discursivo do inquilino da Casa Branca, para colocar o seu proverbial dedo na chaga aberta: que género de federação sobrevive a um presidente que identifica metade da população como a primeira ameaça à segurança interna?


No seu extenso monólogo de vinte minutos, Tucker faz o possível por deixar uma mensagem de esperança aos americanos, satiricamente baseada na incompetência dos democratas: se os eleitores republicanos têm sólidas e evidentes razões para pensar que as estruturas de poder do seu país os odeiam de morte e que os Estados Unidos caminham rapidamente para um regime de partido único, os operacionais dessa transformação regimental serão de tal forma imbecis e incapazes que não vale a pena temê-los.

Tenho porém muitas dúvidas sobre a validade histórica deste argumento. Os criminosos raramente são inteligentes. Se fossem inteligentes, não eram criminosos.