sexta-feira, dezembro 02, 2022

Ye crazy.


Pensava que nunca tinha referido Kanye West no blog, mas fiz uma pesquisa e por acaso até surgem três entradas com a referência a este surrealista e excêntrico personagem.

Suspeito porém que aos leitores do Blogville o rapaz deve interessar tanto como o tempo que vai fazer amanhã em Nova Deli. E ainda bem. Isso é sinal de que os leitores do Blogville são gente sã.

Ainda assim, trago o célebre rapper e ex-kardashian aqui à conversa porque os últimos dias na América têm sido marcados pela esquizofrenia trágico-cómica da sua teatralidade.

Depois de ter anunciado que ia candidatar-se às presidenciais de 2024, o tresloucado rapper, agora conhecido apenas pelo singelo substantivo próprio de "Ye", rodeou-se de dois personagens sinistros da, esta sim extrema, direita americana: Milo Yiannopoulos e Nick Fuentes. 

Estas (péssimas) companhias só reforçaram o carácter anti-semita e radical/demente da sua candidatura.

A seguir foi, na companhia destes dois infelizes, até à Florida, jantar com Donald Trump. Como Trump caiu nesta cilada é difícil de explicar, embora não seja nunca avisado subestimar a capacidade que o magnata de Queens possui para espetar garfos na própria goela. Nesse jantar, que levantou celeumas mediáticas na razão de dez mil por segundo, Ye convidou o ex-presidente e declarado candidato às presidenciais de 2024 para seu Vice-presidente.

Acho que esta sim é a primeira vez que vou colocar emojis num texto do Blogville:

😂😂😂😂😭😭😭😭

Dizem as más, tanto como as boas línguas que o jantar não acabou bem. Trump chamou a segurança de Mar-a-Lago para correr com aquela tropa, que na verdade tinha ido até lá só para gozar com a cara dele.

48 horas depois disto, Ye foi com a mesma horrível entourage ao podcast do Tim Pool. Cinco minutos depois da emissão começar, já tinha abandonado o estúdio, porque começou com a sua conversa maluca sobre os judeus e à primeira e muito ligeira interjeição do anfitrião, amuou e desapareceu de cena.

Outras 48 horas depois, foi ao podcast do Alex Jones. Depois do que aconteceu com o Tim Pool, seria de esperar que até o maluco do Alex tivesse juízo e considerasse que receber esta tropa alucinada não seria boa ideia. Mas como este texto trata de uma conspiração de estúpidos, tudo se torna possível.

Nesse degradante espectáculo de insanidade pura e dura, há um momento em que o anfitrião tenta que o seu convidado não seja confundido com um nazi maluco. Kanye West que, por qualquer razão que escapa ao entendimento humano, se apresenta completamente encapuçado, objecta porém a essa sensata tentativa: bem, mais ou menos, porque o senhor Adolfo até era um gajo carregado de virtudes...

Há quem especule que toda esta sequência de eventos terá por trás manobras de marketing político ainda insondáveis. Essa gente é tão tresloucada como o Ye é tresloucado. O que acontece, e aqui subscrevo o que diz no tweet em cima o David Freiheit, é que o palhaço rico deste circo tem-se esquecido de tomar os comprimidos. 

E podíamos até dizer, como o falecido senhor Shakespeare: tanto barulho por nada. Mas não é bem o caso, porque se Ye continuar a ignorar a receita do psiqiatra e for em frente com a sua candidatura independente, pode muito bem retirar muitos milhões de votos ao candidato republicano, nas eleições de 2024.

E é este o momento da América: na oscilação vertiginosa e delirante entre a comédia e a tragédia.