segunda-feira, maio 15, 2023

Um Giro em aberto.

No fecho da primeira semana do Giro de Itália, a única surpresa é que Remco Evenepoel, depois de dois contra-relógios, não ganhou mais de um minuto e pouco aos seus directos concorrentes para o triunfo na prova. Apesar de ter entrado a matar logo na primeira etapa, onde num curto contra-relógio ganhou algum tempo a toda a gente, o belga não conseguiu impor-se como desejaria no esforço individual de ontem e parte assim para os vários desafios de alta montanha das duas próximas semanas com uma estreita almofadinha que não excede os 50 segundos para Geraint Thomas, Primoz Roglic e Tao Geoghegan Hart e um minuto e sete segundos para João Almeida.

Na única etapa de alta montanha deste primeiro terço da corrida, a sétima, os ciclistas castigaram a organização e recusaram-se a competir, limitando-se a passear pela paisagem lunar dos Apeninos e entregando a vitória a uma fuga protagonizada por atletas de segundo escalão. Não gosto nunca de ver este tipo de 'greves', mas também devo reconhecer que uma etapa de 220 quilómetros não deve terminar com quarenta quilómetros a subir, e no ambiente rarefeito de oxigénio do Gran Sasso, uma montanha que se eleva aos 3000 metros de altitude.

Assim, nem deu bem para perceber como é que Remco e a sua equipa se defendem nas escaladas mais exigentes. O que foi possível verificar na etapa 8, que tinha uma chegada com subidas duras embora não comparáveis à inclinação e altitude que falta cumprir, é que Roglic pareceu melhor do que o campeão do mundo em título. E que os homens da Ineos, equipa que neste momento tem 5 corredores nos top 14 da classificação geral (e dois no top 5) vão ter com certeza uma palavra a dizer no desenrolar da prova.

Uma palavra para o vencedor desta animada etapa 8, o Irlandês Ben Healy, que era um desconhecido em Janeiro deste ano e que depois de excelentes resultados nas clássicas da Primavera deste ano, fez no sábado uma corrida absolutamente extraterrestre, protagonizando e liderando a fuga principal e depois, a quarenta quilómetros do fim e ainda com subidas bem difíceis por cumprir, meteu uma a baixo e nunca mais ninguém o agarrou. Este corredor tem apenas 22 anos, uma potencial incrível, e sendo fraco no contra-relógio (é baixo e muito levezinho), pode tornar-se um voltista a ter em conta para a camisola da montanha e um muito sério competidor de clássicas de um dia.

Quanto a João Almeida, que é quinto neste momento, tem a prova em aberto. Mas não fez hoje o melhor dos contra-relógios, terminando em nono e perdendo algum tempo para todos os seus rivais, embora se esperasse que pudesse perder ainda mais em relação a Evenepoel do que acabou por acontecer. Este Giro é fundamental para a carreira do português, que, pelo que vimos até agora, tem o apoio total e focado da sua equipa, ao contrário do que tem acontecido em anos anteriores. Mas se não conseguir um lugar no pódio, poderá nunca mais usufruir dessa solidariedade da UAE em provas de primeira grandeza, porque o que não faltam na sua equipa são excelentes ciclistas.

Seja como for, o Giro está tão longe de estar decidido como da linha de meta em Roma. Com pouco mais de um minuto a separar os cinco primeiros e muitas etapas que podem fazer grandes diferenças entre os atletas, qualquer apostador sensato será no mínimo cauteloso.