quinta-feira, julho 06, 2023

Hoje, o Tour correu outra vez de pernas para o ar.

Numa etapa com 3 subidas muito difíceis aos Pirenéus, o guião daquilo que era expectável foi de novo virado ao contrário.

Depois de ontem Pogacar ter perdido mais de um minuto para Vingegaard; depois de estarmos todos à espera que cedesse ainda mais tempo numa etapa ainda mais complicada e com uma Jumbo Visma ainda mais focada em quebrar o esloveno à primeira manifestação de fragilidade... Pogacar puxa do seu talento extraterrestre e vence no cumo do Cambasque, roubando vinte segundos à desvantagem que trazia sobre o dinamarquês.

É verdade que Vingeggaard é agora camisola amarela, continua com uma vantagem de 26 segundos na classificação sobre o seu rival, e teve a coragem, também de origem não humana, de atacar a cinquenta quilómetros do fim, nos últimos quilómetros do monstruoso Tourmalet e ainda com a subida toda do Cambasque por cumprir. Mas a sensação que ficou ontem de que o líder da Jumbo podia decidir o Tour logo na primeira semana é hoje, depois do que vimos Pogacar fazer nos últimos quilómetros desta duríssima etapa, não mais que uma ideia tonta.

Jai Hindley não se aguentou de todo ao ritmo dos homens da frente, tenho chegado a mais de dois minutos do vencedor e descendo a terceiro da geral. A camisola amarela não lhe caiu lá muito bem nos ombros.

Um parágrafo para Wout van Aert: enquanto Vingegaard e Pogacar partilhm de facto um planeta à parte, o belga habita sozinho um mundo que é só dele. Van Aert fez seguramente uns bons cem quilómetros (numa etapa de 145) sempre ao ataque, sempre à frente, e sempre a um ritmo demolidor. Sinceramente, às vezes penso que este fantástico atleta, se não estivesse na Jumbo e se perdesse um quilo ou dois, podia perfeitamente lutar pela vitória em grandes voltas. E para quem o acusava de egocentrismo, van Aert deu hoje uma lição de humildade e sacrifício absolutamente eloquente, trabalhando todo o dia, com afinco alucinado, em favor do seu líder.

Ruben Guerreiro fez um excelente quarto lugar nesta etapa, tendo amealhado pontos para a camisola da montanha, que parece agora ser um objectivo para o português da Movistar.

Seja como for, esta primeira semana do Tour tem sido mesmo muito gira. E o que está para vir promete mais rábulas do género épico.