sexta-feira, setembro 22, 2023

Haikus do alto da falésia (décima temporada)


 

Escrevo agora
Mais do que leio.
Maus hábitos.




O antídoto para a dor
É outra dor
Maior.




A melhor companhia que podes encontrar
na curvatura da Terra,
És tu.




Beethoven escrevia música
Como se amanhã
Fossemos todos surdos.

 

 

 

O Moleskine, a velha Parker
E a baía:
O haiku escreve-se sozinho.




Às vezes,
Sinto que escrevo
Por outrem.




Às vezes,
As palavras saem por instinto
Ou memória de alguém.




The Cure.
Nunca uma banda foi tão apropriadamente
Baptizada.

 




Tendinite.
Deus está zangado
Comigo.




Como é que uma pessoa
Pode ter medo do seu próprio
Temperamento?




Já não escrevo haikus.
Limito-me a deixar a Parker
Versar.




Escrevo às escuras
Para que na luz sejam outros
Estes haikus.




Nem todos os meus haikus
Chegam ao blog,
Graças a Deus.




Às vezes hesito,
Mas a Parker continua
O seu ofício.




Chega a ser estranho
Ter tantos moleskines
Repletos de maus versos.




Às tantas ainda descubro
Um poeta
No polegar.




Lua Nova:
É a luz da traineira que separa
O céu do Atlântico.




No limite do horizonte,
Percebo um submarino.
Ah, a ironia.




Portugal precisa de um submarino
Como um abstémio
De Gurosan.




O periscópio não tem vista
Para o sonho
De Vasco da Gama.




Chameleons.
Há trinta anos faziam música
Para agora.



 

 

Estou naquelas noites em que sai
Um haiku
Por minuto.




Quando não consegues parar
O que estás a fazer:
Felicidade.




Amanhã
Ainda vou ser
Vivo.




O que teve que acontecer ontem
Para que amanhã
Ainda seja vivo.




O ateu nunca vai perceber
A piada
Disto.




Boletim meteorológico:
Não sabem de todo
O que estão a fazer.




Prometem chuva para amanhã
Como o apocalipse para
Depois.




Gosto de jornalistas
Como um boxer
De levar porrada.



Não sei bater em ninguém.
Vingo-me
Assim.




Espero sinceramente que as palavras magoem tanto
Como as flores de estufa
Garantem.




Psychadelic Furs:
Como um circo completamente
Independente.



 

 

Clic.
Desligo a Parker e volto a ser dono
Do silêncio.