quinta-feira, novembro 02, 2023

Se calhar, nunca fomos tão infelizes.

Se no futuro alguém se der ao trabalho de tentar definir as primeiras décadas do século XXI, é muito provável que as classifique como uma das épocas mais infelizes da história da humanidade. 

Uma espécie de Belle Époque ao contrário.

Apesar da constante promessa de utopias e melhorias e avanços e progressos, as elites e os poderes instituídos só conseguem gerar guerras, miséria material e imaterial, medos, ódios, divisões e angústias.

As artes nunca desceram a um patamar tão baixo, enaltecendo o que é feio em detrimento do que é belo. O entretenimento doutrina em vez de entreter. Os desportos estão a ser destruídos pela política e pela ideologia de género. As ciências perderam o crédito, a ambição e o rigor. A tecnologia leva-nos por caminhos infernais e escraviza-nos e reduz-nos à condição de servos do algoritmo.

As cidades, equalizadas pelo turismo massificado e pela migração sem freio, perderam identidade, encanto, carisma. Muitos dos centros urbanos icónicos do ocidente são hoje sarjetas infectas de criminalidade, destituição, decadência e ódios étnicos.

Mergulhadas em propaganda, confundidas pelas falsas referências académicas e mediáticas, roubadas da presença de Deus, divorciadas do núcleo familiar, mentidas e enganadas sobre quem são, de onde vêm e para onde vão, atiradas umas contra as outras por causa dos seus credos, do seu sexo, da sua raça e do seu legado histórico e cultural, as pessoas não só se odeiam entre si, como se odeiam a elas próprias. 

No Reino Unido, uma em cada sete pessoas toma anti-depressivos. Na Austrália, a proporção é a mesma. Nos Estados Unidos, uma em seis. Em França, três em dez.

Em Portugal, o país que mais consome ansiolíticos na OCDE, a toma de anti-depressivos aumentou 304% entre 2000 e 2020.

Nos 23 anos deste século assistimos pelo menos a uma dúzia de guerras de grande escala, a saber: Afeganistão (2001-2021), Iraque (2003-2011), Líbano (2006), Geórgia (2011), Faixa de Gaza (2008, 2014, 2023), Líbia (2011-2023), Ucrânia (2014, 2022-23), Iémen (2015-2023). 

No entretanto suportámos terramotos, maremotos, pandemias, crises financeiras, crises inflaccionárias, subidas e descidas brutais das taxas de juro, aumento generalizado dos custos energéticos e subida galopante da carga fiscal.

Como consequência destes eventos fomos empobrecidos de todas as maneiras; fomos forçados a mandatos despóticos de todo o género - inclusivamente obrigados a confinamentos e condicionados a terapias genéticas experimentais; fomos humilhados por turbas de radicais, julgados por apparatchiks no tribunal das redes sociais, insultados por políticos, desdenhados por banqueiros, manipulados por engenheiros de sistemas, aldrabados por jornalistas, enganados por cientistas e tiranizados por burocratas.

Vivemos em países governados por regimes que legislam sobre tudo, que proíbem tudo, que tributam tudo, que controlam e vigiam e restringem e interditam e são intrusivos como não há registo no percurso acidentado das nações.

Até o sal ao pão tiraram.

Obedecemos parva e cegamente às ordens de super-estruturas corporativas que não elegemos, e que nos têm por inimigos, sediadas em Davos, em Bruxelas, em Washington, em Wall-Street, na city londrina, em Beverly-Hills e em Silicon Valley.

Não somos donos dos nossos destinos, não somos livres, não somos dignos e perdemos o amor próprio.

Somos, os habitantes deste século, profundamente infelizes. Se calhar, os mais infelizes na trágico-cómica história da espécie humana.