domingo, agosto 25, 2024

Sobre o 'Livro de Cristo'.

As duas primeiras páginas de O Apócrifo de João, um livro encontrado em Nag Hammadi.

 

Não sei se alguma vez vou ter capacidade cognitiva para escrever a sério sobre este assunto, que é muito complexo e implica muitas horas de pesquisa e leitura, mas quanto mais informação recolho sobre as origens do Antigo Testamento e a sua influência no Cristianismo, mais convencido fico de que a abordagem correcta é a gnóstica. E o que é que eu quero dizer com isto? Que o Antigo Testamento é uma compilação de tradições literárias e religiosas herdadas de egípcios e persas, principalmente, e que Jesus Cristo, sabendo da influência das escrituras no seu tempo e no seu espaço, e do seu potencial messiânico, as adoptou como fundamento proverbial para o seu ministério. Como aliás também fez com a tradição dialéctica e os maneirismo retóricos dos gregos (não é por acaso que o Novo Testamento foi integralmente redigido em koiné helenístico).

Neste sentido, estou a começar a desconfiar que o cristianismo errou ao integrar o legado testemunhal e literário dos apóstolos com as escrituras semitas, que são híbridas e foram para o nazareno meramente instrumentais, numa compilação de dois testamentos.

Teria sido até preferível que outros evangelhos, independentemente de serem apócrifos ou não, fossem integrados na tradição literária cristã, junto com alguns textos criteriosamente seleccionados do Antigo Testamento - Aqueles citados por Jesus (com destaque para as referências relativas aos profetas), alguns dos poucos capítulos redigidos originalmente em grego, e, talvez, os excertos iniciais do Genesis, como matéria cosmogónica e que compaginam esplendidamente com os primeiros versículos do Evangelho de João. 

Os salmos, a odisseia de Moisés e o Êxodo, só para dar alguns exemplos, são completamente irrelevantes no contexto da mensagem de Jesus.

Arrisco até propor que aquilo a que a partir de agora vou chamar 'Livro de Cristo' devia incluir passagens de Platão e ensinamentos de Marco Aurélio, por exemplo, mas excluir de todo em todo o carácter talmúdico que hoje ainda persiste no legado cristão, e que conduziu e conduz, historicamente e na actualidade, a inúmeros mal entendidos e contradições inegáveis entre o que Jesus ensinou e o que o Antigo Testamento revela, até sobre a natureza de Deus.

Os judeus são tão próximos dos cristãos, ou menos, que os muçulmanos. A sua tradição literária é tão válida para o cristianismo como a greco-romana, e isto já para não falar da possível influência que tradições orientais como a do zoroastrismo e do budismo possam ter tido no pensamento do crucificado.

O facto de Jesus ter nascido judeu é irrelevante por uma simples razão: a sua carne divina não tem etnia nem nacionalidade.

Portanto, há que separar as águas: Moisés para um lado, Paulo para o outro.

Porque Yahweh não é o Deus de Cristo.