sexta-feira, dezembro 06, 2024

Um cenário dantesco.

Não me lembro, sinceramente, de um panorama global tão negro, desde que tenho consciência política. 

Por causa da guerra na Ucrânia, estamos neste momento a milímetros de um confronto nuclear entre a NATO e a Rússia. Considerando as nomeações para a diplomacia e a segurança de Donald Trump, as promessas de paz que fez na campanha estarão longe de serem concretizadas e, pelo contrário, não é de todo disparatado projectar que os EUA vão intensificar o apoio à Ucrânia, enquanto a Rússia irá também aumentar o esforço de guerra naquele país martirizado.

Os líderes europeus anunciam a guerra como se de um passeio no parque numa chuvosa tarde de Inverno se tratasse, sendo até chocante a sua leviandade, considerando a probabilidade do apocalipse que traduziria que qualquer confronto directo com a Rússia e a fragilidade das defesas europeias face à segunda potência nuclear mundial.

Na Georgia, vive-se uma ambiente de golpe de estado, com uma luta entre nacionalistas pró-Rússia, apoiados pelo Kremlin, e globalistas pró-ocidentais, suportados pela CIA, que ali está a repetir o livro de normas utilizado na Ucrânia.

No Médio Oriente, Israel combate o Hamas em Gaza e o Hezbolah no Líbano, enquanto procede ao genocídio da população palestiniana. A Síria está a braços com um recrudescimento da guerra civil, num contexto surrealista em que os Estados Unidos apoiam a guerrilha rebelde de um movimento jihadista chamado... Al-Qaeda. E o Irão, mais cedo do que tarde, será alvo do complexo militar e industrial norte-americano, sendo mais que nítido que a próxima administração Trump tudo vai fazer para encontrar uma justificação que conduza à guerra com o país dos ayatolas.

A guerra por procuração que o ocidente declarou à Rússia é agora multidimensional e supra-continental, e considerando que são militares americanos e ingleses que operam os ATCAMS e os StormShadows que estão a ser disparados para o interior do território russo, esse conflito por procuração tem facetas de guerra aberta.

Na Europa, o governo francês acaba de colapsar, sem que uma solução em tempo real pareça possível, sendo que os próximos meses vão ser de caos político, social e económico no país do galo. Que podem impactar seriamente toda a União Europeia.

O governo alemão caiu, para todos os efeitos, no mês passado, e vamos ter eleições já em Janeiro, com os populistas do AfD bem lançados para surgirem como o segundo partido mais votado. O estabelecimento germânico tudo fará para impedir os populistas de acederem ao poder, claro, mas esperam-se convulsões políticas decorrentes desse esforço.

Na Áustria, as negociações para que se encontre uma coligação governamental que exclua o partido populista, que ganhou as eleições legislativas, não estão a correr lá muito bem e as tensões sociais que decorrem do processo de usurpação dos resultados eleitorais são também nítidas.

Na Roménia, a possível eleição de um presidente populista vai polarizar o país, que tem um governo globalista.

Em Espanha, a contestação ao executivo de Sánchez é cada vez mais intensa e não é certo que o governo sobreviva durante muito mais tempo. 

No Reino Unido, a tirania de Starmer vai tender a agudizar-se e são também expectáveis perturbações mais ou menos profundas do tecido sócio-político britânico.

Na Coreia do Sul, vive-se neste momento uma crise constitucional, com um presidente divorciado do parlamento e, tudo indica, prestes a ser preso.

No nordeste do Pacífico, há quem se pergunte como é que Beijing ainda não aproveitou o contexto caótico deste cenário global para anexar Taiwan. A paciência chinesa é proverbial. Mas todos sabemos que é uma questão de tempo até que a cobiçada ilha seja definitivamente tomada.

E voltando aos Estados Unidos: a futura administração Trump vai ter, claramente, duas facções. A populista, interpretada por figuras como J.D. Vance, Tulsi Gabbard, Kash Patel, Elon Musk e RFK jr., e uma ala neoconservadora, próxima dos poderes estabelecidos em Washington e em Wall Street, protagonizada por homens como Marco Rubio, Mike Waltz, Sebastian Gorka e Scott Bessent. 

Da disputa entre estas facções resultará a linha de orientação política, económica e geo-estratégica dos EUA para os próximos 4 anos. Se a facção globalista e expansionista sair por cima deste intestino confronto, vamos ter mais guerras, vamos ter mais tentativas de mudança de regime em países que o aparelho imperialista americano considere estratégicos para as suas ambições de domínio global, vamos ter mais choques económicos, vamos ter mais instabilidade social. E mesmo nos EUA, será previsível a agitação política, especialmente proveniente das bases do Partido Republicano, que elegeram Donald Trump precisamente para contrariar esse tipo de comportamento das elites globalistas.

Seja como for, a paisagem planetária está carregada de electricidade. E a mãe de todas as tempestades pode explodir a qualquer momento.