domingo, setembro 01, 2019

Haikus da Baía #6


O discurso atónico de Jordan B. Peterson
cruza-se com os gritos assíncronos
das gaivotas.

Tudo converge numa sonata antiga.


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Os meus tímpanos conseguem discernir,
aqui e ali e ao longe,
o rotor de um ar condicionado,
o escape de uma motorizada,
o queixume de uma gaivota.

Mas aqui quem manda é o deus
do silêncio.


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A arte do haiku não está na sua
síntese,
mais do que reside na sua
permanência.


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Sermos todos filhos do mesmo
deus menor,
não nos faz iguais na nossa pequenez.


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Se um mero mortal sofre infernais labores
para apenas sobreviver,
imaginem a carga de trabalhos que é necessária
à imortalidade.


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O YouTube grita, grita,
mas não convence como a eloquência
deste fim de tarde.


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Chego à falésia
no feliz momento da retirada dos outros.

A idade é muito sábia.


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Sabes que tens um dia pacífico à tua frente
quando até a maré da manhã
faz silêncio.


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O haiku amanhece na minha cabeça
como um ataque de preguiça traz crepúsculos
aos meus ossos.


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Como seria ético
um universo sem moscas.


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Do outro lado da bússola,
o Atlântico protesta com furacões de grau cinco.

Deste lado, não.