Mesmo com critérios de selecção ao nível do recrutamento de soldados praças, Santana Lopes viu-se e desejou-se para conseguir formar governo. Na verdade, ninguém quer governar Portugal. As elites nacionais têm pelos ministérios a aversão que a fidalguia do século XV tinha pelas artes do comércio: é coisa suja. É ofício indigno de gente sábia que prefere os prazeres almofadados dos conselhos de administração de instituições - essas sim veneráveis - como A PT, a Brisa, a TAP, a RTP, a EDP e outras que tais que oferecem bons ordenados, Audis A6 de dois em dois anos e a segurança barriguda de serem participadas pelo estado. Nestes casos, naturalmente, já não se importam estes novos aristocratas com a sujidade da coisa pública.
Sempre defendi que os políticos deviam ganhar muito melhor e é de uma demagogia verdadeiramente imbecil - com efeitos dramáticos sobre a cultura de gestão do estado - continuar a pagar tuta e meia aos dirigentes da nação (como defendeu recentemente o próprio Santana Tiro no Pé a propósito do célebre salário do Director Geral dos Impostos). Mas ainda assim, começa a enevar-me sobremaneira este nojo com que a nata da tecnocracia lusitana trata a República.