sexta-feira, setembro 24, 2004

Fado Cacilheiro


Sou um velho cacilheiro
na doca seca a navegar.
A morte é um marinheiro
que se demora no mar.

Trago musas no porão,
antigas glórias do Tejo.
Sou uma velha embarcação
longe da maré que desejo.

Sou um velho cacilheiro
já sem carta de marear
estou perdido no novoeiro
da doca seca à praia-mar.

Trago as tágides na proa
e os dez cantos do Camões.
Sou um velho de Lisboa
com saudade das monções.

Sou um velho cacilheiro,
na doca seca a navegar.
Para quem é prisioneiro,
o tempo corre devagar.

Trago comigo essa glória
do Tejo desaguar pelo mundo.
Sou um velho sem memória
imerso em sono profundo.

Sou um velho cacilheiro,
não tenho pressa de chegar.
A morte é um marinheiro
que se demora no mar.