sexta-feira, setembro 24, 2004

A culpa é minha.

Cada dia que passa, é mais e mais evidente que este é, por agora, o pior governo da Terceira República. Caramba, parece até que estes senhores e estas senhoras ambicionam a idiotia suprema, o vexame público, a ignomínia e a desonra. Dá a sensação que desejam mesmo ser tratados por doutores em incompetência da grossa e mestres em disparate compulsivo. E digo-vos: trago comigo a suspeita de que Santana Lopes quer acabar com o País, ou vendê-lo aos espanhóis ou matar os portugueses de constrangimento, ou qualquer outra coisa vergonhosa do género.
Apesar disto, parece-me - no mínimo - draconiano crucificar a Ministra da Educação pelo escandaloso atraso mental e despudorado cinismo colectivo em que sobrevive uma generosa fatia do funcionalismo público nacional.
Os portugueses têm vindo pelos séculos a alimentar esta ideia de que o país é uma miséria por culpa das élites que detêm o poder político. Este modismo da psicologia social portuguesa tem muito que se lhe diga. Primeiro porque, a ser válida a tese, a sua antítese concluíria que os Ingleses creditam à brava a sua classe política pelo excelente país em que vivem. Não é, obviamente, o caso. Depois, se podemos responsabilizar quase exclusivamente D. Sebastião pelo desastre de Alcácer Quibir - e dos outros que se lhe seguiram em catadupa até à ocupação dos Filipes - não é legítimo que deixemos cair o megalítico fardo da derrocada moral, operacional e financeira do Estado Português nas almas que elegemos para tomar conta da Coisa: ao contrário dos despotismos, a democracia dá-nos a capacidade de governar, por interposição, a querida pátria.
Se os nossos políticos - já de si entidades reflexas da sociedade de que emergem - não prestam para nada, é porque andamos a escolher mal os nossos políticos. Mas da mesma forma, se as máquinas administrativas que servem a gestão política não funcionam (literalmente), não será tempo de perceber que essa responsabilidade também compete à performance profissional dos seus quadros?
Se Portugal é o caos, a culpa não será, enfim, dos portugueses?
Eu, por exemplo, sei bem que a culpa é minha. Sou preguiçoso e arrítmico. Tenho tiques disfuncionais e sofro de iliteracia em novas tecnologias. Para além do mais, pasme-se, tive a inconsciência brutal de votar no Dr. Santana Lopes para Presidente da Câmara da minha cidade, muito por culpa do Dr. Guterres, é verdade, mas ainda assim um crime de Lesa Pátria pelo qual devia ser punido pelo Dr. Bagão Felix, que - se o deixassem - viria logo muito pressuroso, cobrar-me, com juros e ameaça de penhoras, os benefícios fiscais que deduzi à colecta desde que sou um ente tributável.
Mas sim, eu sei, a culpa é minha. E quero aqui apresentar desde já as minhas mais sinceras desculpas aos alunos e seus respectivos encarregados de educação pelo abstruso facto de o ano lectivo não ter sido capaz de começar. E já agora, pela ignorância em que vivem mergulhados os filhos da nação. E só não me demito - acreditem - porque não exerço cargo público.