quinta-feira, dezembro 30, 2004

Pretensão e ignorância.

Apesar da importância enorme que atribuímos à raça própria e às consequências dos nossos actos, a terrível mãe natureza persiste, ao longo das eras, em reduzir a condição humana ao seu real tamanho. O movimento tectónico - e titânico - que provocou a maré de morte do Índico equivaleu, em poder destrutivo, à explosão do arsenal termo-nuclear acumulado pelos soldadinhos de chumbo dos pentágonos todos. Esta eloquente manifestação de força deveria fazer-nos pensar na forma como construímos a civilização, nas fragilidades inerentes ao ecossistema sócio-tecnológico que teimamos em levantar sobre a instável superfície do planeta e na pretensão de homenzinhos estúpidos com que encaramos a vida na Terra. Mas não. Com sorte, serão apenas instalados mais sensores sísmicos nas profundezas do oceano e é seguir em frente, sempre a abrir, no sentido único de um crescimento viral que só pode ter como fim um curto circuíto de dimensão bíblica. Do menú do apocalipse, hão-de inevitavelmente sair degelos ou glaciares, terramotos e maremotos, erupções vulcânicas ou quedas de meteoros e eu temo bem que só iremos perceber que não somos nós os deuses quando for demasiado tarde.