terça-feira, janeiro 25, 2005

O Escondidinho do Largo do Rato.


A estratégia do PS para garantir a maioria absoluta é um objecto fenomenológico de primeira grandeza académica. Quem tenha a desgraçada intenção de fazer tese sobre a jovem democracia portuguesa, deve elevar esta circustância a paradigma. Em 30 anos de Terceira República, o Estado tornou-se num tal monstro de complexa mediocridade, que Sócrates sabe bem da reduzidíssima margem de manobra que o seu governo vai ter para ser diferente dos outros. Obstinado em não dizer nada que o comprometa, o Secretário Geral do PS cala-se muito bem caladinho, deixa-se ficar escondido no labirinto do Largo do Rato e espera que Santana cometa a sua generosa média diária de dislates. Não admira que se escuse a raposa à gentileza de esclarecer os portugueses sobre a ideia que tem para conduzir a Nação, se é que tem alguma. Não admira que fuja de inócuos debates televisivos, onde se discutem coisas insignificantes como a insustentável dívida pública ou a lastimável Constituição Europeia com adversários menores, cujo potencial eleitoral não justifica o risco nem vale o incómodo.
Ora, é precisamente para que o eleitorado perceba os valores, as intenções, os programas, a capacidade e o carácter dos candidatos, que existe na democracia a figura da campanha eleitoral. Acho eu. Com esta filosofia draconiana de utilizar a lei do silêncio para atingir o objectivo da mínima governabilidade, os socialistas estão a dar uma péssima imagem da democracia contemporânea. E ainda agora começaram.