segunda-feira, setembro 12, 2005

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Uma das grandes fragilidades das democracias ocidentais é o carácter não evolutivo e dogmático da sua filosofia política. Muito particularmente na Europa, os regimes não se questionam: colocar a democracia socialista em causa é a heresia suprema do Século XXI. Na medida que o dogma se vai perpetuando, os cidadãos, entretidos com a tecnologia e alimentados pela indústria, mal criados, mal educados e mal habituados, vão adormecendo sobre a noite decadente e abre-se na Europa um vazio de poder: o poder das ideias. E enquanto o crescimento cancerígeno de uma comunicação social completamente livre e integralmente irresponsável vai aniquilando as lideranças políticas - normalizando comportamentos até á morte da individualidade - instala-se na administração pública um buraco negro: a ausência de homens de génio.
Em Portugal, a Terceira República esgotou o seu modelo e isso é tão evidente que dá raiva ver esta gente toda a assobiar para o lado. A candidatura de Soares resume bem toda a decadência das instituições políticas: um homem antigo (nem importa realmente que idade tem) e que é o símbolo de um regime velho, justifica a sua candidatura com a resignada apreciação de que esse regime geronte que fundou é incapaz de produzir candidaturas contemporâneas com um mínimo de credibilidade (Manuel Alegre era outro homem antigo, e sem credibilidade nenhuma). Caso vença, Soares levará para Belém o mais arcaico modelo ideológico dos modelos ideológicos actualmente residentes nos palácios presidenciais de toda a Europa.
É por isto, e por tudo o resto, que é preciso ter consciência da inadequação dos paradigmas filosóficos, políticos e económicos que nos governam a vida social, antes que isso implique a falência técnica e moral da nação. É preciso perceber porque é que ficámos entregues a uma classe de dirigentes sem espírito, sem dignidade e sem ideias para além das que lhes ensinaram na quarta-classe de Salazar e nos cafés de Paris; bonecos de anedotário, obcecados por um assento confortável na Presidência da Vaidade, no Ministério da Inveja ou na Caixa Geral das Ganâncias. E é preciso agir. É preciso, por exemplo, usar as armas destes senhores e destas senhoras contra eles próprios. É preciso ignorá-los na televisão, é preciso ignorá-los nas eleições. É preciso fundar modelos teóricos e experimentá-los em células sociais. É preciso procurar soluções de gestão pública que devolvam as responsabilidades cívicas às pessoas. É preciso retirar ao estado a sua opulência disfuncional e acabar com a terrível mentalidade paternalista sobre os povos. É preciso deixar de submeter os intérpretes da vida política, e os desígnios autênticos do país, ao inquérito de pasquim e à lógica de tablóide. É preciso saber que podemos e devemos reinventar a democracia. Ou inventar uma outra utopia qualquer.
É preciso saber edificar a Quarta República.