terça-feira, junho 13, 2006
Na arena.
Correndo o risco de me repetir aqui no blog: o futebol de alta competição não é um desporto. É, por acaso, a antítese disso. Também não era por desporto que se atiravam os cristãos aos leões, nem por cavalheirismo que se esfolavam os lutadores gregos, nem por graciosidade de espírito que se faziam correr as quadrigas.
O local é sempre a arena e a febre é invariavelmente a de sangue. O futebol é um excelente substituto da guerra, porque canaliza de forma irrepreensível a pulsão tribal e predadora do bicho humano. É também, um ópio poderoso. Não será jamais a manifestação ética e estética que por umas primevas dezenas de anos entreteu a audiência. O relvado transformou-se num parque para deuses mal educados, destituídos da galantaria britânica. Deuses que simulam penaltis e são sacaninhas. Deuses que imploram por um cartão amarelo, que é devido ao outro deus adversário, que decidiu canelar. Deuses que têm medo de sofrer um golo e jogam para o um a zero. Deuses que sabem fazer gestos feios. Deuses que ganham 120 mil contos por mês e não sabem falar português. Deuses que chutam à baliza e acertam no orgasmo das multidões. Deuses que sobem ao céu e descem ao inferno enquanto o diabo remove uma remela.
No caso vertente da imagem, Koller conhece em menos de meia hora a glória do gladiador triunfante e a miséria do condenado às galés: depois de marcar o primeiro golo da República Checa neste mundial, magoa-se a sério e provavelmente está fora do campeonato.
Os mundias são cada vez pior jogadinhos (no sentido da espectacularidade estética do jogo), na inversa proporção da esmagadora focagem mediática. À medida que a pressão aumenta, os artistas vão desaparecendo de cena. Nedved, Robben e Figo fazem a diferença, mas é pouco ainda assim. O futebol que se joga hoje em dia é fechado, nervoso, envergonhado, armadilhado, calculista, venenoso, prudente.
E pensar que 4 em cada 10 portugueses acham que a selecção portuguesa vai ser campeã do mundo...