segunda-feira, junho 26, 2006

Um mundial normal.

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1 - Devo desde já dizer que acho o futebol um "desporto" de contacto físico. A abominável FIFA está a a tentar forçar a natureza dos homens ao ponto em que uma merda de uma porrada sem significado ontológico para o decorrer do jogo (competição com valor ontológico) vale um cartão amarelo e depois é só uma questão de nervos até que o maior craque de qualquer equipa fique de fora no próximo jogo. E, sendo que o futebol é bonito por causa do craques, isto não é defender o futebol. Expulsar o Deco daquela maneira não é defender o futebol.

2 - Este mundial tem sido uma fantástico sorporífero. Ao contrário das grandes figuras do dirigismo político da Terceira República, não tenho a sesta por hábito. Mas adormeço a meio da tarde, a ver a Argentina a jogar à bola. Durmo sobre os jogos porque tenho, mais coisa menos coisa, a certeza sobre os resultados. A normalidade impera e que mais posso dizer? A selecção nacional, ao menos, mantém-me acordado.

3 - Por acaso, acho que nunca escrevi aqui no blog as grandes patifarias que já disse sobre o Sr. Scolari, o que é uma pena. Essa reprovável lacuna impede-me agora de afirmar com acrescida propriedade: DESCULPE LÁ, MISTER. O sargento deu hoje uma conferência de imprensa absolutamente impecável (tomara Sócrates para um dia de festa) e mais que os resultados ou as exibições (que não têm sido - comparativamente - tão más assim) conseguiu inegavelmente estar neste momento a treinar uma EQUIPA de 23 jogadores.

4 - O jogo de hoje indexa com flagrante propósito ao último post que por aqui deixei sobre o futebol contemporâneo em geral e o Mundial 2006 em particular: quando os lamentáveis holandeses jogam uma bola cuja posse lhes tinha sido atribuída por lesão de um jogador português, cai por relva qualquer noção pseudo britânica, olímpica, caveilheresca, romanesca ou ética que possamos querer alimentar em relação ao fenómeno. O futebol, hoje, é mais importante que a noção medieval de cavalaria. É até mais importante do que a qualquer noção ética. Num campeonato do mundo, ganhar é a Ética.

5 - A Selecção Nacional fez hoje, dia 25 de Junho de 2006, História. E fê-lo porque está constituída por jogadores que entendem a natureza do circo. É óbvio para toda a gente que esta equipa pode e sabe jogar muito mais bonito do que joga. Esse foi, aliás, o o erro que sempre cometemos, com resultados absolutamente catastróficos. Agora sim, amadurecemos. Agora sim, ultrapassámos a fase em que tinhamos que provar que sabiamos jogar à bola. Agora sim, podemos ser campeões do mundo (!).

6 - Gostava de escrever um dia sobre o Luís Figo. É claro que tinha que ser num dia bom, num dia em que musas eloquentes me empurrassem para o abismo da glória que é só dele. O homem é um exemplo. Para toda a gente.

7 - Não sei se a malta deu por isso, mas o Sr. Blatter proferiu hoje algumas sábias palavras, logo a seguir ao jogo e por causa do jogo; o que é, de todo em todo, rarissímo, senão inédito. O Sr. Blatter, que efusivamente manifestou a sua alegria por ter oferecido ao planeta uma guerra de 99 minutos, acrescentou louvores grandes à selecção portuguesa, que considerou a melhor equipa em campo, tanto no que respeita à técnica como à táctica, considerando ainda, e inacreditavelmente, que a arbitragem estave uns furos abaixo da qualidade do jogo. Este discurso é de tal forma surrealista (leia-se: justo) que não me admira nada se o Figo vier a ser castigado a posteriori pela cabeçada que deu num infeliz de um holandês qualquer que - aqui entre nós - estava mesmo a pedir uma cabeçada na cana do nariz. Há coisas que são boas demais para serem boas.

8 - Estou feliz, hoje. A culpa é desta malta que cagou as cuecas, que suou as estopinhas, que deu o coirão. Que sacrificou o corpo a sério, como o corpo deve ser sacrificado para a devida salvação do espírito (ah, Cristo!). Estou feliz, hoje, muito também por causa do diabo do Maniche, que chuta sempre muito direitinho à baliza.