segunda-feira, novembro 06, 2006
7 pérolas da Colecção do Dr. Rau.
5 - JEAN-HONORÉ FRAGONARD
Retrato de François-Henri, Duque de Harcourt.
1769, Óleo sobre tela, 81.5 cmx65 cm.
Último campeão Rococó do Antigo Regime, Jean-Honoré Fragonard (1732 – 1806) é um belo personagem da história trivial da arte. Os seus cenários configuram-se entre o bucólico e o frívolo, os temas são ou galantes ou enjoativos, impera a vida profana da clientela - aristocratas de segunda e burgueses de primeira - e a escola do alto barroco já estava esgotada quando o homem começou a pintar. Também há quem goste de pensar que o mestre francês, em vez de velho-do-restelo-do-barroco é um pioneiríssimo percursor do romantismo. Tese da treta: Fragonard pintava os mesmos bucólicos ambientes que Goya antes de enloquecer porque a escolástica da sua época assim o exigia e não por visões vanguardistas da filosofia liberal do futuro.
Dito isto, há que virar a face à moeda e perceber que a técnica de Fragonard é prodigiosa (só mesmo com muito talento é que se consegue tornar razoavelmente interessante o chatérrimo assunto da menina no baloiço) e que o mestre nos deixou generosamente para cima de meio milhar de obras (sem contar com esboços e desenhos e gravuras e o diabo), cálculo que, convenhamos, não deixa de ser impressionante.
Neste magnífico retrato do Duque de Harcourt - uma das suas 15 Fantasias - o génio de Fragonard revela-se bem: confiando na minha memória era capaz de jurar que se trata de uma tela grande e não é o caso, distorção perceptiva que muito se deve ao enorme poder visual da obra. Ao seu mediatismo agitado e grandiloquente. Tudo vibra de movimento na posição estática do Senhor Duque. Dir-se-ia que corre uma ventania danada, mas trata-se nitidamente de um plano interior, de estúdio. O aristocrata é retratado com a panache de um super-herói do século XVIII embora as primeiras 4 páginas de resultados do Google não consigam justificar a glória imortal do retratado. Quero eu dizer que há um excesso, um exagero, uma falsidade neste boneco que são verdadeiramente arrebatadoras. Quero eu dizer que fiquei com a ideia que, para Fragonard, a arte é uma mentira. Neste contexto, acho que gostei da sensação de ser enganado.