terça-feira, outubro 31, 2006

A posse de ontem

"Sei que perdi tantas coisas que não poderia contá-las e que essas perdas são agora o que é meu. Sei que perdi o amarelo e o preto e penso nessas impossíveis cores. Como não pensam os que vêem. O meu pai morreu e está sempre a meu lado. Quando quero escandir versos de Swinburne, faço-o, dizem-me, com a voz dele. Só o que morreu é nosso, só é nosso o que perdemos. Ilíon passou, mas Ilíon perdura no hexágono que a chora. Israel aconteceu quando era uma nostalgia. Todo o poema, com o tempo, é uma elegia. Nossas são as mulheres que nos deixaram, já não sujeitas à véspera, que é a angústia e aos alarmes e terrores da esperança. Não há outros paraísos que não sejam paraísos perdidos."

JORGE LUIS BORGES