O Professor gosta do Engenheiro e é íntimo dele. Adora aquela mesinha redonda onde se juntam os dois durante horas a fio, para resolver o país, distribuindo fichas pelo par e o impar, o vermelho e o preto. Nesses momentos de qualidade entre camaradas (entre amigos!), o Professor acarinha-se do Engenheiro e deixa-o jogar sempre com as brancas. Olha para ele e revê-se no homem e convida-o a biscar. Observa-o e identifica-se com os problemas dele: é difícil tirar dobles. O Professor sabe disso muito bem e abandona-se languidamente em solidariedades institucionais e lealdades de estado. Quanto muito, lá consegue meter a jogo o seu carrão de doze pintas, mas nada que possa interromper o curso da grande reforma que o País precisa e que o Engenheiro fornece. Deve-se sempre confiar num bom parceiro de Canasta. O Professor está convicto que tem à sua frente um reformista e não está disposto a trair as regras do jogo. Limita-se a passar pela casa da partida e a receber dois contos. No que lhe diz respeito, o Engenheiro é o tipo certo no lugar certo e mais nada.
Na última mão, o Engenheiro leva duas e pede três apenas, porque sabe que o Professor não gosta de andar com muitas moedas no bolso.