"Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir."
"É-se feliz na Austrália, desde que lá se não vá."
Álvaro de Campos
De certa forma, podemos dizer que a obra de Fernando Pessoa é uma viagem. Uma viagem por dentro dele e para fora do mundo concreto. Uma viagem multi-dimensional e para-geográfica sem serviço de fronteiras nem medos de jet lag. Uma viagem que não tem partida, nem regresso, nem destino, nem roteiro, porque a poesia não precisa de acumular milhas. Uma viagem ao derradeiro abismo que é o do mistério da existência.
Até 26 de Janeiro, a Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II encerra e sintetiza o safari metafísico de Álvaro de Campos, Bernardo Soares, Fernando Pessoa - o ortónimo - e Alberto Caeiro numa encenação eficaz de Ricardo Pais, sobre o excelente dispositivo cénico de Manuel Aires Mateus. Podemos discutir a selecção dos textos, podemos objectar isto e aquilo sobre o Álvaro de Campos de João Reis, mas quando as palavras de Pessoa começam a ecoar no palco, quando as magníficas, grandiloquentes, alquímicas, penta-essenciais palavras do mais genial poeta do século XX (é dizer pouco) começam a tomar conta da sala, tudo se resume a um máximo denominador comum: a infinita odisseia da literatura.
Façam o favor de ir, portanto, ao teatro.