quinta-feira, abril 02, 2009
Sobre a Raiz Quádrupla do Princípio da Razão Suficiente
Jackson Pollock - Number 8, 1949 (detail)
"Viver é sofrer"
Arthur Schopenhauer
Viver é difícil, isto é verdade. A mim, nunca ninguém me disse que ia ser fácil, e mesmo assim acho que é difícil. Mesmo assim acho que não estava preparado para isto. Entrei para a vida como um jogador de ping pong entra numa partida de rugbi: empurrado, contrariado, assustado e andorinha tonta, sem saber para que lado é que vai a Primavera, de tanta lambada na tromba que chove por todo o lado.
Viver é difícil. Se calhar, morrer é mais fácil. Mas a facilidade eterna também deve ser muito complicada de aturar. De qualquer das maneiras, não tenho culpa de ter nascido, pelo que me parece uma boa ideia não ser culpado da minha morte. Assim, sempre me salvo de uma e de outra, o que não é nada fácil.
Viver é difícil, sim, a mais das vezes. A vida só é fácil para aqueles poucos que nasceram com o rabo virado para a lua ou casaram com a filha do patrão (que por acaso até é jeitosinha) ou não perceberam realmente nada de Schopenhauer. O tipo que nasceu com o rabo virado para a lua, casou com a filha do patrão (que por acaso até é jeitosinha) e não percebeu coisa alguma de Schopenhauer deve ser o gajo mais feliz do mundo. Mas, pensando bem, mesmo este sujeito deve ter dificuldades com a metafísica: se ergue templo à lua, vem o sogro chamar-lhe ingrato. Se diviniza a esposa amada, há-de Schopenhauer saltar da campa com a sua Arte de Lidar com as Mulheres em punho, pronto para lhe dar com ela umas cacetadas valentes. Se deifica a incompreensão da fenomenologia pós-kantiana, há-de ter muitas velas para acender. E não como aquelas de interruptor que agora vemos nas igrejas: viver é mais difícil e implica o uso de fósforos.
Sim é verdade, existir dói à brava e é muito complicado passar pelos espinhos das horas e os gumes dos dias sem fazer ferida. Pois é. Mas é a vida. E como não há certezas sobre o que havia antes e o que haverá depois se é que alguma coisa houve antes e haverá depois, o melhor é aguentá-la. Sempre é preferível habitar um apartamento projectado por Dante que passar os dias a tentar adivinhar as assoalhadas de uma moradia desenhada por Pollock, não acham?