quinta-feira, julho 29, 2010

Arde, meu país, arde.

Reduzem-se a cinza os céus por uma noite quente de Verão.
Incendeia-se de desgosto Portugal em Agosto, paróquia em procissão.
Antes que morras, meu país que foste um dia, arde em letargia.
Antes que te esqueçam em vida, arde até à morte, meu país-romaria.

Portugal para sempre demasiado tarde;
arde, meu país, arde.
Canto do mundo valente e cobarde;
arde, meu país, arde.
Arde, meu país, arde.

Que diria Camões deste céu vermelho, deste horizonte enferrujado
pelo inferno e o inverno da nação que deu errado?
Nem os portugueses, a mais das vezes, gostam de Portugal:
deitam-lhe fogo, deitam-lhe a mão, fazem-lhe mal.

Que o diabo te leve e que deus te guarde;
arde, meu país, arde.
Não há chama que te abastarde;
arde, meu país, arde.
Arde, meu país, arde.

Pátria sem os heróis que canta, em timbre debilitado:
o notável é imbecil ou capitão de abril, reformado.
Ficaram todos por lá, os melhores que há, na perdida de Quibir.
E os que viveram, atrasados mentais que não souberam ir.

O fim da história nunca vem tarde;
arde, meu país, arde.
Canto do mundo valente e cobarde;
arde, meu país, arde.
Arde, meu país, arde.