É certo que o jornalismo em Portugal é a miséria que é e toda a gente sabe que o Jornal de Notícias é uma coisa desaconselhável à brava, mas esta notícia sobre um acidente rodoviário na A4 bate todos os recordes da imbecilidade. Reparem bem no estilo rigoroso e objectivo deste parágrafo:
"Como ficou, todo estampado de costas, o atrelado tombado de lado na encosta, carga espalhada e os 12 rodados indignamente virados ao ar, o grande Scania R440, um muito possante semi-reboque, vermelho vivo, novo, parecia um Transformer que correu horrivelmente mal. Bastava ver-lhe a cara que é a sua cabina - pareceu ter levado um soco do céu: testa de vidro partida, grelha metida pelas fuças adentro, todo amarrotado como papel, um sem-número de fios e mecânicas vísceras, a escorrer, à mostra de todos. Metia dó, como um escaravelho que capota e não se pode levantar. Mas, mais do que isso, metia medo."
Custa a acreditar, mas este é o ponto a que chegámos. A notícia vem orgulhosamente assinada por um tal José Miguel Gaspar, que é certamente uma besta, embora na verdade não seja completamente culpado do dislate, na medida em que os atrasados mentais não têm culpa de serem atrasados mentais. O que pergunto é o seguinte: que raio de editor permite a publicação de um texto destes? O Jornal de Notícias é um pasquim, mas até os pasquins devem estabelecer os seus limites e é para isso que existem editores e sub-editores e coordenadores e supervisores e revisores e o diabo que os carregue, que deviam estar todos a dormir quando o triste Gaspar decidiu partilhar a sua insanidade com a triste audiência.