quinta-feira, setembro 01, 2011

Davidoff Lights


No último cigarro é que está o mistério.
A desfocada presença dos deuses ajuda ao entendimento do mundo e
há glória grande no derradeiro sopro nicotoíde
que se esfuma em sonhos brancos de solidão e desespero.
Não importa que falem os filósofos sobre a angústia sem filtro,
que protestem as multidões em baforadas de despeito:
no último cigarro é que está o mistério.
Fumar vale a pena por causa disso.
Disso de podermos consumir os deuses enevoados,
génios efervescentes à procura de uma saída da lamparina da história
que é um maço de tabaco.
Fumar faz bem aos pulmões da razão
e é com tristeza imensa e saudade grande
que nos despedimos da beata derradeira na gare mundana e ferroviária
de um cinzeiro.
Adeus, adeus, cilindro-falo, muleta da existência,
companheiro dos nervos e das insónias,
fiel depositário da confiança nenhuma, cinza pura no chão do Inverno.
Aspiro, inspiro, recebo a bênção e a libertação no carvão em fogo,
por dentro da mortalha:
no último cigarro é que está o mistério.