quarta-feira, dezembro 14, 2011

O elogio da loucura.


Cumprindo a sua tristemente célebre tradição de equívocos, a revista Time acaba de eleger como Homem do Ano a turba que se manifesta. A turba que ocupa e conspurca a Wallstreet, como a turba dos fanatismos religiosos do Cairo, como a turba que incendeia Londres. São todas turbas justas e dignas de um título honorífico. Entre os laureados está este senhor na fotografia e os rapazinhos que violaram a jornalista Lara Logan em plena praça Tahrir.
A equipa editorial da Time, que em má hora teve esta triste ideia e que sofre de uma ingenuidade arrepiante e perigosa, parece acreditar que esta gente que se manifesta por esse mundo fora luta pela democracia, pelo estado de direito e pela justiça social. Ora, o que acontece é que os manifestantes do Cairo ou de Damasco, na sua maioria, pretendem apenas substituir regimes ditatoriais laicos por regimes ditatoriais religiosos; os manifestantes de Atenas pretendem tão só manter os seus privilégios de párias; os manifestantes de Nova Iorque fazem tudo o que podem para abolir o direito à propriedade e os manifestantes de Londres desejam muito simplesmente assaltar a loja de electrodomésticos e roubar o LCD necessário à plena fruição da Playstation 3 que compraram com o dinheiro do subsídio de desemprego.
A equipa editorial da Time, que tem uma visão infantil do mundo e que padece de um humanismo de centro esquerda que está a arruinar a civilização ocidental, elege agora como Homem do Ano o manifestante com a mesma displicência e ignorância que elegeu para o mesmo título em 1939 um senhor chamado Adolf Hitler. Ora, os movimentos de base populista patrocinados pela extrema esquerda europeia e pelo radicalismo islâmico constituem, hoje em dia, uma ameaça tão séria como na altura era já séria a ameaça constituída pelos movimentos de base populista patrocinados pelo partido nazi.
Compreendo a dificuldade em eleger para Homem do Ano seja quem for, neste mundo sem glória, nestes tempos de caos e mediocridade, mas, caramba, não pode ser essa a desculpa para uma escolha assim infame.