Retrato do bobo Pablo de Valladolid | Diego Velázquez | 1636/37
Maravilhoso, não é?
Manet achava que este era "o mais espantoso bocado de pintura jamais pintado" e Goya, perante este prodígio, limitou-se a concluir que Velázquez tinha retirado à obra prima a sua margem de manobra.
Eu concordo com os dois. Isto que estão aqui a ver vem de um campeonato à parte. Vem de um campeonato que é disputado entre os deuses. Não que o objecto retratado tenha algo de divino. Não. O objecto retratado é sobretudo e sinceramente prosaico. Porém, não se retrata aqui um bobo pelo bobo que ele é. Retrata-se aqui o bobo pela transcendência imagética que é possível obter através dele. Retrata-se um anti-climax. Mas retrata-se este corte de ganza de tal forma magistralmente, que acaba o bom Pablo por ser elevado a uma condição que não tinha, que não tem, que nunca teve. O bom Pablo, através do génio de Velázquez, eleva-se e eleva-nos ao sétimo céu da representação gráfica. É um absoluto. É uma verdade. É uma redenção.