domingo, março 10, 2013
Do meu ponto de vista.
POR ARTUR PAIXAO
Foi com surpresa que acedi à tenebrosa teia da Igreja no seu sinistro percurso à renúncia do papa, o venerável senhor Joseph Ratzinger, por alegada incapacidade física, decréscimo de faculdades e outras razões de saúde muito pertinentes. Rejubilaram na corte das toucas vermelhas da matilha dos caducos servidores obesos de inutilidade, peças do milenário tabuleiro de xadrez em que o seu Senhor deixa jogar, de barato, as ambições conspirativas dos seus guardiões, porque cansado, envelhecido escorregando-lhe as fracas forças para suportar o pesado fardo dum catolicismo esfarrapado, duma imobilidade a que a sua gasta visão não cobre já as consequências capazes de reinar um universo que desejara criar à sua imagem. No célere desmontar do seu templo eis que surge um homem inteiro, de carácter e comovente coragem que renuncia e ainda que piedosamente mentindo proclama que basta. Do meu ponto de vista, distante dos púlpitos, das sacristias e dos confessionários e de toda a panóplia que enche as paredes dos templos onde se invocam os milhares de santinhos, que não foram a votos e geralmente castrados em defesa de castidades perdidas pelos sombrios escaninhos duma fé violada, entre outros horrores, pela pedofilia que tem custado milhões, à denunciada escandaleira das finanças do Vaticano, depauperadas, exaustas por excursões num terreno que nem mesmo a intervenção de iminentes operadores, desligados das coisas da fé, infiéis de nota alta, instrumentos de comprovada eficiência na distorção de valores e engenharia financeira que nunca sensibilizaram os desígnios do Senhor não lograram mais do que uma falência branqueada pelos véus que generosamente, ainda que ligeiramente encardidos de muito tempo de uso para amenizar manobras obscuras, teriam deixado cair para cobertura de outras usanças menos próprias em nome, sempre, dos interesses do Senhor que garantidamente não subscrevia e a congregação executiva apelava à discreta intervenção da Santa Leocardia muito experimentada no lançamento dos véus que aligeirassem os fossos que o bispo dos investimentos, de rosário contado entre as garras das mãos da ganância, um idiota de tamanho da Sé de Braga que resignou oportunamente e que consta, se bronzeia nas cálidas areias de remotos paraísos do sul do Brasil. Não me retenho na queima de milhares de inocentes que a Santa Inquisição em defesa da paixão obrigatória do Senhor e a desatada sangueira de descabeçados que nada tinham que ver com o permanente conflito que foi permitindo em seu nome em resultado da sua senilidade pela legião de carrascos dos Judas de hoje de formas mais sofisticadas, é certo, mas sempre anunciando a maldição do Inferno para os simplórios que não encascam, perplexos, um Deus que não olha os desvarios dos seus acólitos que do alto dos púlpitos condenam e se representam juízes do mistério que paira muito para lá do azul do céu a que, só excepcionalmente alguns de sanidade discutível aceitam entregar-se numa idolatria vazia das realidades que os cercam, da injustiça que ignoram embrulhados em si mesmos, numa dúvida teológica, na misteriosa senda dos caminhos que conduzem simples pastores de almas lavadas antes da distorção infligida pela dureza do seminário e se erguem às hierarquias dos capuchinhos vermelhos por vias que a catequese não me revelou em tempo de calções em que me interessavam mais as inolvidáveis proezas dos ídolos do Benfica, esses sim, de pés bem assentes na terra.
É minha convicção que o Papa resignou sob o peso da perfídia, da baixa política que o encurralava, objecto da cabala de que era objecto, duma comunidade fechada, tresmalhada em seu redor, isolado num circulo ruminando ambições de intriga dividida em hostes aparelhadas para uma escalada ao poder que, creio, se instalou desde que Pedro instalou o primeiro calhau para glorificação do reino de Deus, uma abstracção que não se concretiza senão corporeamente no sacrificado do bom carpinteiro de Belém, acrescida da história de Pilatos, Maria Madalena e outras ficções de eco muito sugestivo.
Escreveu, e retive, um escritor italiano contemporâneo que “a salvação para combater todas as religiões e suas maléficas influências na equilibrada sanidade mental, quando num turbilhão de crenças, é única e simples. Um tiro na cabeça.”
Ignorando qualquer religião, seco de fé, sem arma e nem sequer caçadeira de canos serrados, não obstante estar de pleno acordo com aquele pensador, estou à vontade para me excluir de tão pesado radicalismo.
Antes da negação de quanto respeita desse mito que dominou por séculos o mundo e o lançou para chacinas sem procedentes, depois do homem das cavernas desertificado do espantalho das almas, crenças e fanatismos religiosos, iniciou-se uma multidão de copistas da história digna dum quadro de revista popular do Parque Mayer, da costela arrancada, sem anestesia, não sei se de Eva ou Adão ou o contrario, sem esquecer a simbologia da serpente que, ocasionalmente, visava a apetitosa maçã que tem muita importância nesta encenação, dignas da iniciativa dos terapeutas do Hospital Júlio de Matos aí por altura do Natal em que se baniu a simpática presença de burros e vacas por figurarem em momento de muito decoro.
Subscrevo sem reticências este ponto de vista.