Hoje, na sua coluna do Observador, Helena Matos diz muito do que há para dizer sobre a detenção de José Sócrates. Só com uma humilde objecção: se é enorme verdade que a culpa por este sujeito ter chegado a primeiro-ministro - e ter imperado como primeiro-ministro - é de todos os portugueses (o resultado de uma república não é da responsabilidade dos cidadãos que votam assim ou assado, é da responsabilidade dos cidadãos, ponto), acho sinceramente que ele também contribuiu em substância para o drama, simplesmente por ser o sujeito que é. E deve responder por isso. Afinal, não estamos nós todos, já há uns anos largos, a pagar pelo crime de lesa-pátria cometido quando o elegemos e durante a eternidade toda em que o aturámos? O José Sócrates só agora começou a liquidar a sua parte.
E depois, como aprendemos com Hannah Arendt, há sempre um problema em dividir as responsabilidades pelo limite absoluto: quando todos temos culpa, ninguém tem culpa. É uma síntese que valida a sua antítese.