terça-feira, março 17, 2015

O traidor ataca outra vez.

Depois de dois mandatos incapazes, cuja herança, caríssima para o Ocidente em geral e para a América em particular, só o avançar da história será capaz de revelar em toda a sua miséria; depois de um rol patético e infame de recuos e retiradas, de hesitações e cobardias, de equívocos e meias vontades que condenaram a política externa americana à impotência total; depois de, pela primeira vez na história das relações diplomáticas dos Estados Unidos da América, ter posicionado a Casa Branca como inimigo feudal de Israel (um erro geoestratégico e também de política interna que é difícil de medir, dada a sua inacreditável magnitude); depois de falhar todas as suas principais apostas, todas as suas primordiais promessas, e de as falhar com estrondo; depois de ter feito tudo o que era possível para adulterar as virtudes que fizeram da América uma potência e - de certa forma - o porto seguro e quartel general da liberdade individual e dos valores do Ocidente, este islamita que os americanos - num ataque de esquizofrenia sem precedentes na história universal - elegeram, por duas vezes, como seu líder máximo, tem nos últimos meses mostrado, com uma honestidade que até aqui não se lhe conhecia e que só deriva de um natural desespero de causas, a sua face mais tenebrosa. Aqui há umas semanas, num arremedo ignorante e espantosamente demagógico, comparou o terrorismo islâmico às cruzadas. E hoje, num impulso desculpatório da sua incompetência e cobardia, culpou George W. Bush pelo surgimento do Estado Islâmico.
Obama, o Pequeno, nunca deve ter lido um livro de história na puta da vida e deve saber tanto das nove cruzadas (na verdade foram doze) como eu sei de feixes hertzianos - ou menos. Comparar uma realidade histórica complexa, que tem origem em tensões existentes no mediterrâneo desde a baixa idade média, que envolveu uma multiplicidade incrível de variáveis étnicas, religiosas, económicas e geográficas e que decorreu durante dois séculos com o que está agora a acontecer no levante é admissível num programa televisivo de vocação humoristica do género Saturday Night Live mas é um analogismo difícil de aceitar quando é proferido pelo Presidente dos Estados Unidos da América. Alguém devia dar-se ao trabalho (bem sei que fútil) de explicar a este energúmeno que as cruzadas são, na sua vertente política, uma tentativa de travar a hegemonia económica, militar e religiosa que a veloz e ameaçadora expansão muçulmana impôs no Mediterrâneo. Alguém deveria ensinar a Obama que Jerusalém foi ocupada pelos califas em 638 e bastante desvalorizada e martirizada a partir daí, e que, sendo uma cidade santa para os cristãos, estes se sentiram na obrigação de a libertar. Alguém deveria perder cinco pedagógicos minutos com este imbecil de forma a que ele conseguisse perceber que os horrores perpetrados pelos cristãos foram do mesmo género dos horrores perpretados pelos muçulmanos, porque guerra é guerra e na guerra não há humanistas e na idade média o horror tinha, de qualquer forma, uma valorização completamente diferente da que tem hoje. Alguém devia encaixar a informação pertinente na cabeça pequena deste pequeno rapaz que nem todos os califas eram saladinos e que nem todos os cristãos eram templários genocidas e que, apesar da presença farta de genocidas dos dois lados das trincheiras, os actos de guerra e chacina do Estado Islâmico são bastante mais virulentos que aqueles perpetrados e historicamente registados no decorrer de dois séculos de cruzadas. Infelizmente, parece que ninguém quer perder tempo a ensinar história a Obama e, por isso, Obama vai continuar a proferir estes dislates e a insultar toda a gente com a sua ignorância levezinha de pop star, que deve ser a única coisa para a qual tem realmente algum jeito.
Mas, mais ofensiva ainda é a afirmação de hoje. Culpar a anterior administração republicana pela génese do Estado Islâmico é mais ou menos a mesma coisa que culpar o Presidente Wilson pelo surgimento do Nacional Socialismo na Alemanha dos anos 30 ou Abraham Lincoln pela segregação racial nos estados do sul da América no século XX. Para além de não fazer sentido nenhum, é uma afirmação infame e vergonhosa. Até porque tenta disfarçar o indisfarçável: o Estado Islâmico só foi possível porque a administração Obama decidiu, de forma irrealista, impensada e precipitada, retirar do Iraque sem primeiro criar condições militares, políticas e sociais para que não acontecesse precisamente o que aconteceu.
Barak Obama termina assim o seu último mandato respeitando o barbarismo intelectual e a vilania ideológica com que o iniciou: anti-americano por definição, não desiste da sua sagrada missão de destruir os valores morais e materiais da civilização ocidental. E a história remota e recente serve-lhe às mil maravilhas, porque, para a esquerda radical a que pertence de coração, a história não é o que foi. É o que devia ter sido.