O homem que não morre fala mais alto que as palavras.
Rima com a vida enquanto versa em liberdade.
É maior que os plátanos, é mais alto que as sequóias porque
engana a morte.
O homem que não morre dá ordens em voz alta.
Diz assim aos deuses: "Vão para a puta que os pariu. Eu mando mais."
O homem que não morre anuncia o seu livro de poemas enquanto lhe estão
a substituir o fígado.
(A imortalidade é ter um gajo qualquer a ler poemas teus no momento em que
estás a mudar o filtro).
O homem que não morre dirije-se aos homens que morrem com voz grossa
e saudade de bebedeiras.
Há, no homem que se recusa a morrer, um regresso à coragem:
a vontade indomável de Prometeu.
Há, nesse insolente, uma fome insaciável de existir, uma sede irrecuperável
de versos furiosos, delicados, permanentes.
Sim, sim, puta que pariu os deuses.