sexta-feira, julho 24, 2015

Poema do Gajo do Terceiro Anel

O gajo do terceiro anel senta-se sempre atrás da assembleia.
E se chega à praia com a maré cheia,
espera que fique vazia, para ter o espaço que é preciso
para ser dono das costas dos outros.

O gajo do terceiro anel é uma espécie de lanterna-vermelha-de-propósito,
prefere seguir na poeira derradeira a fazer parte do pelotão compósito.

O gajo do terceiro anel é claramente o mais insuportável dos arrogantes
e não se importa de apanhar com a merda dos elefantes,
desde que não siga com a coorte do marajá, desde que siga atrás do cortejo
e desde criança que sempre sentiu o desejo
de encostar a carteira simétrica
à parede final da sala, na aula de aritmética.

O gajo do terceiro anel já não vai ao cinema desde que acabaram
com o segundo-balcão
e nunca teve a infeliz ideia de comprar um bilhete para o peão.
O gajo do terceiro anel chega a ter pena
dos desgraçados que se sentam demasiado perto da arena.

O gajo do terceiro anel insiste no lugar lá atrás de todos os lugares atrasados,
mesmo quando o concerto está a meia casa
(o gajo do terceiro anel acha que não deve sofrer com os petardos
de suor que são projectados
pelo entusiasmo capilar do maestro).

O gajo do terceiro anel prefere estar sozinho quando devia seguir acompanhado
e é por isso que nunca vai dar um bom soldado.