As escorrências na cratera de Horowitz.
Citando George Clooney em "Tomorrowland", quando eu era criança o futuro era muito mais giro. Hoje, o futuro não presta para nada. E não presta para nada porque deixámos de perseguir os nossos sonhos. Na verdade, acho que deixámos até de sonhar.
Um dos sonhos mais bonitos que a raça humana já sonhou e perseguiu foi o da conquista espacial. A conquista espacial, por si só, fazia do futuro um sítio espectacular. Porém, com a queda do bloco soviético - e consequente redução drástica da motivação americana - e a ascensão concomitante de homens medíocres à liderança das potências ocidentais, de que é exemplo vivo o desgraçado do muçulmano que é o actual Presidente dos Estados Unidos da América, o sonho morreu. Continuamos e enviar sondas para aqui e para ali, é verdade; temos uma estação espacial (que não se sabe bem para que serve), é verdade; temos empresários trendy, apostados no turismo espacial (que na verdade é apenas orbital), é verdade; mas não temos tripulações lançadas na aventura balística, à procura de novos mundos. Não temos conquista. Não temos glória. No que concerne à corrida ao espaço, parece que a História tem andado para trás.
Hoja, a NASA, entidade outrora gloriosa e conquistadora, e que agora é uma sombra triste e deprimida e politizada e manhosa daquilo que já foi e daquilo que prometeu ser, anunciou timidamente ao mundo que em Marte é capaz de existir água em estado líquido. Tudo indica. Parece que sim. Não é certo, mas há indícios. Os indícios são os sais hidratados (com moléculas de água) que a Mars Reconnaissance Orbiter detectou na superfície de Marte, junto a crateras que apresentavam "escorrências".
Se há água líquida em Marte, mesmo que a sua manifestação à superfície seja apenas gotejante, é muito capaz de haver vida, lá. E se houver vida em Marte, podemos também especular com alguma assertividade sobre a sua existência em sítios como Enceladus, Europa ou Io. E se no nosso sistema solar existir vida bio-química em dois ou três sítios, o que nos diz isso sobre o universo? Que estará carregadinho dela, claro. E se o cosmos está carregadinho de vida, as hipóteses de existirem seres capazes de desenvolver civilização num raio de acção de 100 anos luz, aumentam significativamente.
A hipótese estatística da vida biológica ser até bastante comum no cosmos será, talvez, o gatilho que precisamos para voltar ao espaço. Para voltar a sonhar. Para voltar a perseguir o sonho. E assim, resolver muitos dos problemas que nos cercam aqui, no nosso pequenino e doloroso ponto azul.
Assim sendo, a notícia de hoje é, por definição, uma boa notícia. Agora o que é preciso é levá-la às últimas consequências. Ir lá ver, pesquisar, descobrir. Sair daqui para novas fronteiras, zarpar para dobrar cartografias desconhecidas. Partir para vencer desafios inimagináveis. O triunfo sobre o abismo sempre foi, sempre será, afinal de contas, a última, a única redenção da humanidade.