Parece ser opinião unânime que os bandidos que perpetraram os atentados da noite de sexta-feira pertenciam a uma organização terrorista sofisticada. Que estavam bem preparados e organizados. Não concordo. Não percebo o que é que há de sofisticado num tipo que dispara uma kalashnikov em direcção a um restaurante cheio de gente. Há-de concerteza acertar em alguém. E fazê-lo à mesma hora que outro infeliz está a fazer a mesma coisa no quarteirão ao lado, também não me parece muito complicado. Basta que os dois tenham um relógio no pulso. Comprar umas quantas AK-47, a metrelhadora mais popular no mercado negro de armas, também não configura prática de génios. Basta conhecer ou pertencer ao sub-mundo do crime, coisa comum nos subúrbios islâmicos de Paris.
Hoje em dia, qualquer adolescente pode fazer uma bomba em casa. A internet explica. O explosivo utilizado nos atentados é usado industrialmente e pode ser obtido das mais diversas formas, inclusivamente legais. Não é preciso ser um grande mestre do crime ou um profissional do horror para cumprir este tipo de missões. Pelo contrário, tudo o que sabemos nesta altura aponta para um grau de amadorismo muito elevado. No Stade de France, os terroristas que se fizeram explodir não ceifaram com essas explosões mais vidas do que as deles próprios e a de um transeunte que circulava no exterior do recinto, falhando obviamente a missão de espoletar as bombas no interior do estádio e, de preferência, perto da bancada presidencial, onde se encontrava o Presidente Hollande.
Considerando que estavam mais de 1000 pessoas no Bataclan, os 89 mortos surpreendem: cada carregador de uma Ak-47 tem cerca de 30 balas. 3 homens que recarregaram as suas armas várias vezes e que permaneceram no local durante horas, não conseguiram liquidar nem dez por cento dos presentes. O simples facto de deixarem um rasto nítido para a investigação seguir - o aluguer de uma viatura por um dos envolvidos - tanto como o de trazerem consigo documentos de identificação, é sintomático do baixo nível de preparação dos autores deste acto de guerra aberta.
Mas, no fundo, é precisamente esse amadorismo que é simultaneamente assustador, imprevisível e eficaz. É precisamente por serem fáceis de executar e requererem muito pouco treino e muito pouco dinheiro que estas acções são possíveis e frequentes. E muito difíceis de prever ou evitar.
É cada vez mais comum dizer-se que, por vivermos uma era conturbada, vivemos tempos interessantes. Eu não os acho assim tão interessantes. São tristes. São humilhantes. São decadentes. Mas não são interessantes.
Uma nota sobre o descaramento: Parece piada, mas as campanhas publicitárias que estão a passar constantemente na transmissão da CNN, inteiramente dedicada à barbárie de Paris, são de dois estados muçulmanos: Emiratos Árabes Unidos e Bahrein. Qualquer director de marketing minimamente são, interromperia de pronto uma campanha como a que está a passar relativa à cidade de Abu Dabi, mas a sensação de impunidade desta gente, bem como a confiança de que o Ocidente nunca reagirá de forma cega contra os árabes ou os muçulmanos, desobriga à decência.